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terça-feira, 20 de junho de 2017

Too big to fail



Too big to fail (grande demais para quebrar) é um problema que frequentemente nos atormenta. Há menos de 10 anos, em meio à crise deflagrada pela falência da Lehman Brothers, vimos os mesmos que haviam tomado a decisão de não resgatar aquele banco serem forçados a mudar de postura e adotarem, a contragosto, medidas que possibilitaram a sobrevivência do sistema financeiro.

A decisão foi justificada então como necessária para evitar que a crise se tornasse ainda mais profunda e, da forma como vejo, isto muito provavelmente era verdadeiro. Caso outras instituições tivessem quebrado na esteira da Lehman, a contração de crédito seria ainda mais profunda e a Grande Recessão de 2008-2009 poderia rivalizar com a Grande Depressão dos anos 30.

Isso dito, se houve benefícios associados à decisão de resgatar bancos e assemelhados, houve também custos, alguns dos quais não imediatamente visíveis. Em particular, ficou claro que não há como bancos centrais e tesouros nacionais se comprometerem a não resgatar instituições “grandes demais para quebrar”. Ao contrário de Odisseu, que se amarrou ao mastro de sua nave para não sucumbir ao canto das sereias, a crise revelou que as cordas são bem mais frágeis do que gostaríamos.

Sabendo disso, não é difícil concluir que instituições “grandes demais para quebrar” tenderão a tomar mais risco do que fariam caso não houvesse a possibilidade de resgate. Não é postura diferente, por exemplo, de um trapezista que, sabendo da existência de uma rede de segurança, escolhe saltos mais arriscados do que faria na ausência desta rede.

Em economês isto é definido como um problema de “risco moral” (moral hazard), no caso um problema de assimetria de informações em que as autoridades não conseguem monitorar perfeitamente o comportamento de certos agentes. Assim, ao socializar o risco, fazem com que instituições assumam mais risco do que o saudável.

Longa introdução à parte, meu tema hoje não é o risco que o sistema financeiro possa estar acumulando por conta desse problema, mas sim a decisão do TSE que, mesmo em face de provas inegáveis de corrupção e abuso de poder nas eleições de 2014, se entregou a piruetas de fazer inveja a nosso trapezista imaginário para absolver a chapa Dilma-Temer, decisão saudada por silêncio ensurdecedor tanto da situação como da oposição.

Segundo o ministro Gilmar Mendes, a cassação da chapa “lançaria o país em quadro de incógnita”. Ainda que tenham tentado vestir a decisão com uma roupagem técnica, o veredito do TSE muito provavelmente resultou da percepção da enorme desordem política que se seguiria à cassação, caso o STF mantivesse a condenação.

Trata-se do mesmo problema apresentado acima. Em nome de evitar aprofundar uma crise (no caso, política), o TSE abriu as portas para o risco moral: na certeza de que dificilmente serão punidos, candidatos não terão freios para toda espécie de abuso.

Note-se que essa piora institucional é apenas mais uma num quadro de deterioração persistente, que abarca desde a falência das regras de conduta fiscal (como mudanças casuísticas na Lei de Diretrizes Orçamentárias) até a própria governança do país, expressa na corrupção generalizada.


Em tal contexto, apenas o Brasil não parece ser “grande demais para quebrar”...




(Publicado 14/Jun/2017)

38 comentários:

E a Laura Carvalho que não entendeu o trabalho recente do Alesina???

Laura

hahahahah

Nem um pouco, Alexandre!

Laura

Este artigo explica melhor as contribuições do Alesina et al:

https://www.cartacapital.com.br/economia/comparar-orcamento-publico-e-orcamento-domestico-e-uma-falacia

too big to fail é o esquema que eles criaram. Vao ter varias piruetas para salvar o esquema porque se abrem de fato a porteira vai faltar cadeia.

Não parece que os custos da decisão do TSE serão tão grandes :trata se apenas de restabelecer os baixos níveis de credibilidade que tinha antes. Com a economia nesse buraco o judiciário tem que ser mais flexível e controlar os robozinhos da procuradoria; afinal dependemos dos políticos que estão ai para fazer as reformas;a lava jato veio numa péssima hora econômica.

essa sua longa introdução jurava que vc estava fazendo uma ponte com Caixa Economica, com BNDES, incluindo a bolha imobiliária americana


Mas tem um problema aí Alex, que é exatamente a sua última frase:
Quando todos são too bigs quem se salvará???
é a pergunta do milhão...

Bom texto!

Só faço uma pequena correção:

Ao contrário de Odisseu, que se amarrou ao mastro de sua nave para não sucumbir ao canto das sereias, a crise revelou que as cordas são bem mais frágeis do que gostaríamos.

..que se amarrou ao mastro do seu navio para não sucumbir ao canto das sereias

Alex, vc criticou o Delfim a vida toda por ter sido ministro num período marcado pela ausência de democracia. Pq não critica a atual equipe econômica? Esse governo nao tem qualquer respaldo democrático, provadamente corrupto e os caras seguem lá, sem saber que estão sendo usados como bóia para Temer e companhia não afundarem...

" Esse governo nao tem qualquer respaldo democrático, provadamente corrupto e os caras seguem lá, sem saber que estão sendo usados como bóia para Temer e companhia não afundarem..."

Opa! Eu pessoalmente não ficaria, mas não há como comparar.

Delfim foi ministro de uma ditadura sangrenta, que matou e torturou, censurou imprensa, o cacete. Em particular, estava presente na edição do AI5.

Este governo saiu de regras ditadas por uma constituição que tem problemas, mas não pode ser considerada antidemocrática. Isto dito, se você tivesse criticado a equipe anterior por fazer parte de um governo corrupto, eu poderia levar sua afirmação a sério (não, só a consideraria um pouco menos ridícula do que é...), mas, como não o fez, vou considerá-la tao ridícula como de fato é.

Você tocou no ponto. A atual equipe econômica é parte de um governo corrupto
O que mostra que honestidade no Brasil não é uma valor para ortodoxos e heterodoxos.

Não somos grandes demais para quebrar, muito pelo contrário: Somos pequenos demais para a nossa quebra ser algo importante para o universo.

A capacidade de autosabotagem do PSDB nunca deixa a desejar. Bolsonaro e Lula lideram as pesquisas e o Sr. FHC resolve criticar quem? João Doria. Pqp é burrice demais. O que se passa com esses bicudos? Aliás, só para constar, tanto Dória quanto o governador Alckmin já se declararam claramente favoráveis às reformas. Mas, nessa toada, é capaz de o PSDB sequer chegar vivo em 2018. E, como resultado, bye bye reformas, bye bye Brasil.

Alexandre, o orçamento de um país é diferente do orçamento de uma família? Os heterodoxos vivem dizendo que sim. E o de um país é diferente do de um Estado? A solução pro Rio seria a volta do Banerj? kkk

Alexandre, vc comprou esse livro do Fabio Giambiagi com Mansueto Almeida? Recomenda?

Uma “longa introdução” impagável.

Um liberal convicto confessando, mesmo com muito pesar, que nas grandes crises só o Estado salva. Isto não tem preço ...

Será que este testemunho de fé no Estado é o primeiro passo para sua conversão em um fervoroso keynesiano de quermesse?

Muitos desses economistas estiveram presentes em manifestações para pedir o impeachment da presidente Dilma,e atualmente trabalham em um governo corrupto.

Você precisa escrever um texto com o seguinte título Alex: o que acontecerá com o Brasil se um populista ganhar e realmente implementar aquilo que estão propondo.

Aliás, não sei o motivo de diversos economistas ainda não terem feito isso com a clareza necessária.

Será pelo motivo de essa possibilidade ser tão horrível que chega a dar medo de sequer cogitar como possível?

Bem, as pesquisas eleitorais dizem que é o mais provável.

E enquanto isso, os tucanos se autodestroem. Vamos ser claros: o PSDB, e com muito sorte a Marina, são os únicos que podem - talvez - levar adiante uma agenda reformista. Mas as pessoas tem medo de dizer isso para, claro, não se lambuzarem com a política suja que está aí, que afeta inclusive o PSDB com acusações. Mas quem será que ganha com isso? Com certeza as reformas não ganham

O Brasil está sem norte, sem ética, sem moral e sem vergonha. Ditaduras de direita ou esquerda são péssimas, mas as "sangrentas" mesmo foram no Chile e na Argentina que mataram mais de 30 mil cidadãos cada. No Brasil, os militares enfrentaram e mataram 420 pessoas. Uma pena que tenha ocorrido, mas infelizmente a falta de ética e moral está matando muito mais pessoas hoje em dia. O Brasil é grande demais (gigante pela própria natureza), mas falimos...


Este governo saiu de um golpe parlamentar e isso é uma verdade cristalina que os moralistas imorais e seletivos vão continuar a negar. É a banalidade do mal na versão cínica e cafajeste brasileira: os golpistas cinicamente alegam (ainda que não acreditem) que só estavam cumprindo a Constituição (a mesma que eles negam desde que ela foi instituída) e só estavam lutando contra a corrupção (mesmo tendo tenham feito campanha e votado em Aécio). Na verdade eles sabem que o que estão fazendo é simplesmente substituir um governo legitimado pelo principal mecanismo de decisão democrático (que é a vontade popular expressa no resultado de eleições livres), por um governo sem legitimidade e sustentado pelo único elemento que substitui o consenso, que é a força, a força e o poder dos derrotados na última eleição. Os golpistas esquecem que a democracia é tanto o respeito ao dissenso quanto ao consenso, ambos sempre e necessariamente móveis e verificáveis somente e através de eleições. Mesmo porque ainda não inventamos outro mecanismo político mais eficiente e legítimo.

"Um liberal convicto confessando, mesmo com muito pesar, que nas grandes crises só o Estado salva. Isto não tem preço ..."

Leia de novo, analfabeto funcional...

"Este governo saiu de um golpe parlamentar e isso é uma verdade cristalina que os moralistas imorais e seletivos vão continuar a negar. É a banalidade do mal na versão cínica e cafajeste brasileira: os golpistas cinicamente alegam (ainda que não acreditem) que só estavam cumprindo a Constituição (a mesma que eles negam desde que ela foi instituída)"

Hmmm, quem se recusou a assinar a constituição foi o PT...

E o Samuel Pessoa no Centro Celso Furtado ensinando economia a eles?

kkkkkkk

Se é o que se está discutindo e/ou tentando entender: A Constituição não impede ninguém, inclusive autoridades, de ser corrupto. Mas há meios (e quantos!) de não punir ou mesmo inocentar corruptos, deixar que permaneçam (décadas -- vide o caso do candidato em quem quase a metade dos eleitores votaram pra presidente [imagino quantos aqui, presentes como comentaristas, inclusive eu]) no exercício de seus mandatos (nos três poderes). A questão me parece mais simples (e cruel): constituições, leis, regras, auditorias, corregedorias e tudo o mais, embora necessárias, não são suficientes. "O homem é um animal doente", disse Jacques Lacan. Resta saber quando essa doença psíquica liquidará a humanidade. Agora, que ela, com frequência implanta o inferno em certas sociedades, em certas épocas, isso suponho ser unanimidade.

golpe parlamentar na novilingua dessa gentalha significa não cumprir os compromissos assumidos quando receberam a propina

os tucanos cometeram a proeza de serem esquerdistas demenos nas ultimas 3 eleições presidenciais, e agora estão direitistas demenos, ou esquerdistas demais para a próxima.

"Hmmm, quem se recusou a assinar a constituição foi o PT..."

Dois erros não fazem um acerto.

Um não assinou a Constituição e o outro sempre que pode trata de violar não só muitos de seus capítulos mas agora tiveram a audácia de violar nada mais nada menos do que seu Parágrafo único que diz que todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes ELEITOS ou diretamente, nos termos da Constituição. Como comparar um erro político com um crime contra o espírito democrático de nossa Constituição?

Petistas e tucanos (à época ainda no PMDB) não só ajudaram a escrever a Constituição de 1988, como em geral votavam juntos a maioria dos capítulos da nova Carta justamente contra o chamado CENTRÃO (os nomes deveriam sempre corresponder as coisas mas aqui as coisas, desculpe-me o pobre trocadilho, não funcionam bem assim).

Os petistas não assinaram a Constituição mas continuaram fiéis ao espirito das leis que ajudaram a estabelecer. Já os tucanos assinaram mas em compensação logo que chegaram ao poder foram os primeiros a alterá-la ao sabor de seus interesses e a violar o espírito democrático de nossa Constituição e as leis que eles ajudaram a escrever naquela ocasião.

A questão é grave mas os golpistas ainda não se deram conta das consequências do crime que cometeram não contra um partido, mas contra toda a cidadania, contra a democracia, se é que se preocupam com isso!

Mansueto Almeida serve a um governo corrupto,Zeina Latif,entre outros servem a um governo corrupto.

"Como comparar um erro político com um crime contra o espírito democrático de nossa Constituição?"

Bom, o artigo 52 da constituição permite o impedimento e o processo foi todo supervisionado pelo STF. Se há alguém aqui contra a constituição, é você...

"Zeina Latif,entre outros servem a um governo corrupto."

Até onde sei a Zeina trabalha na XP... Onde você trabalha?

Aliás, pensando bem, eu trabalhei em um governo corrupto...

Alguns economistas participam do conselhão,outros trabalhão diretamente servindo a esse governo corrupto, e economistas desse mesmo governo assessoraram Aécio Neves.Quantos desses economistas abrirão mão dos seus cargos em virtude da ética,da defesa da moralidade no serviço público?

“Leia de novo, analfabeto funcional...”

“A decisão foi justificada então como necessária para evitar que a crise se tornasse ainda mais profunda e, da forma como vejo, isto muito provavelmente era verdadeiro. “

Analisando esta frase:
1. A decisão era necessária, já que o senhor considera a justificativa “muito provavelmente” verdadeira. Certo?

2. A que decisão necessária se refere a frase? A do Estado de resgatar empresas com dinheiro público (alguns US$ trilhões), para a “sobrevivência do sistema financeiro”. Certo?

1+2 = É verdadeiro que, em 2008, era necessário o Estado salvar as empresas para a “sobrevivência do sistema financeiro” e para que a recessão não se transformasse em uma depressão como 1930, devido à contração do crédito.

Com todo o respeito, apesar de citar os custos desse salvamento mais à frente, na minha interpretação, é um liberal justificando uma (mega) intervenção do Estado na economia.

Mas como o senhor é o autor, posso estar interpretando errado ...



O governo que o serviu fez historia,tirou milhões de pessoas da pobreza e teve fatos isolados de corrupção.

"Bom, o artigo 52 da constituição permite o impedimento e o processo foi todo supervisionado pelo STF. Se há alguém aqui contra a constituição, é você..."

Não tenho nada contra o artigo 52 apenas acredito que ele deve ser utilizado como recurso último e de forma muito cuidadosa e parcimoniosa, mas não para anular o Parágrafo único e nem muito menos para ser utilizado de forma facciosa, como uma espécie de recurso eleitoral dos derrotados, uma espécie de "terceiro turno" indireto, ou o famosos "tapetão".

"O governo que o serviu fez historia,tirou milhões de pessoas da pobreza e teve fatos isolados de corrupção."

Fatos isolados de corrupção: mensalão, petrolão, Odebrecht...

Condenados: Palocci, Dirceu, Genoíno, Vaccari (as outras condenações permanecem), Silvinho...

"Mas como o senhor é o autor, posso estar interpretando errado ... "

É a única frase sensata em tudo que escreveu

"Não tenho nada contra o artigo 52 "

Ah, que bom. Estava preocupado com sua opinião... Ainda bem que reconhece que faz parte da mesma constituição, né?