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quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Mais do mesmo (erro)

Implícita ou explicitamente muitos dos argumentos contra a austeridade fiscal se apoiam na ideia (errada) que a contenção dos gastos nos levará a um cenário de estagnação, ou baixo crescimento. Não por menos, comparações com o desempenho europeu nos últimos anos pipocam nas análises sobre o assunto.

Há, por trás desta noção, a crença que apenas o gasto público poderia impulsionar a demanda e assim levar à recuperação da atividade. Esta análise peca tanto no que se refere à teoria quanto à realidade local, bastante distinta da enfrentada pelos países ricos.

Do ponto vista teórico ignora que, exceto em condições bastante específicas, que jamais se materializaram no Brasil, há uma troca entre o gasto público e as taxas de juros. Uma política fiscal mais frouxa, como a defendida pelos keynesianos de quermesse, implica taxas de juros mais elevadas e vice-versa, ou seja, há fortes razões para crer que um programa de estabilização fiscal bem sucedido se transforme em taxas de juros mais baixas, por pelo menos dois canais.

Em primeiro lugar, gastos menores tendem a reduzir a inflação, o que, como notado pelo Banco Central em sua comunicação mais recente, abre espaço para taxas de juros mais baixas. Em segundo lugar, no caso de economias em que o descontrole fiscal implica elevação do risco-país (o tanto a mais que o governo precisa pagar na sua dívida em comparação a países percebidos como bons pagadores), sua correção leva à queda.

Não se trata de um delírio teórico: o risco brasileiro caiu à metade, de cerca de 5% ao ano no início de 2016 para algo em torno de 2,5% ao ano agora, queda impulsionada em larga medida pelas medidas que começaram a sinalizar desenvolvimentos mais positivos no caso das contas públicas. Note-se que há ainda muito terreno a recuperar: há poucos anos o risco-Brasil seguia de perto o risco-México; hoje mexicanos podem tomar recursos pagando a seus investidores 1% ao ano a menos do que brasileiros.

Já no que se refere à taxa de juros doméstica o progresso foi ainda mais extraordinário. Embora a Selic tenha sido reduzida em apenas 0,25%, as taxas mais longas caíram muito mais.

Mesmo se deixarmos de lado os níveis distorcidos do começo do ano, que apontavam para uma taxa real de juros para 2017 acima de 10% ao ano, tínhamos valores na casa de 6,5-7,5% ao ano pouco antes do afastamento da presidente.

Hoje, porém, a taxa real de juros para 2017 se encontra hoje ao redor de 5,5% ao ano, ainda elevada, mas, como previsto pela teoria, muito inferior à observada antes da adoção de medidas de ajuste fiscal de longo prazo. Seus efeitos sobre o crescimento devem se fazer sentir em 2017 e 2018.

Esta dinâmica não pôde se materializar nos países europeus, onde taxas de juros se encontravam próximas a zero, dada a inflação baixa. Já em nosso caso, em circunstâncias bastante diversas, o ajuste fiscal contribuiu fortemente para a redução da taxa real de juros e pode continuar a fazê-lo, caso medidas adicionais sejam aprovadas nos meses à frente.


É incrível como este pessoal, depois de quebrar o país com sua mistura de má teoria e desrespeito aos dados, ainda se ache capaz de participar do debate brandindo os mesmos defeitos. Por sorte, ninguém mais os ouve fora de seus próprios círculos.



(Publicado 2/Nov/2016)

25 comentários:

O Governo Obama foi o governo que tentou aumentou o tamanho do estado por meio do Obamacare.

"Por sorte, ninguém mais os ouve fora de seus próprios círculos."

Acontece que esse círculo tem o diâmetro do planeta...

Como sempre, excelente, curto e grosso, como está sendo tão necessário!

Alex, o BC maneja o juro com base na inflaçao, certo? Acredito que os heterodoxos pensem que o fiscal pode apertar que nao necessariamente a inflacao va ceder. Por exemplo, o cambio desvalorizar, haver quebra de safra etc. Nao acredito, obviamente, nisso, mas eles nao enxergam que a inflacao no Brasil seja fundamentalmente de demanda.

Toda vez que eu vejo um desenvolvimentista dizendo...
" Eu fiz um cálculo que prova que...."

Já sei que está errado.

Agora a professora leda Carvalho vem dizer que há o "mito do a gastos públicos".

Esse pessoal acha que "teoria geral"
é a bíblia.

Qual a avaliação do senhor sobre a equipe economica de trump?

O senhor se esqueceu de citar na CBN, o fato de que renda mediana da população americana estagnou por falta de liberalismo.No Ranking de liberdade economica produzida pela Heritage Fundation os EUA estão em 12 em liberdadeconomica atras de países como:como:HongKong,Singapura,Australia,Suiça ,Irlanda,Canada.

E de nada adiantou visto que o Trump vai acabar com o programa.

“ o risco brasileiro caiu à metade, de cerca de 5% ao ano no início de 2016 para algo em torno de 2,5% ao ano agora queda impulsionada em larga medida pelas medidas que começaram a sinalizar desenvolvimentos mais positivos no caso das contas públicas.”

Discordo da sua análise.

A tese de que risco=f(contas_publicas) é boa, mas a dinâmica dos dados não a sustenta.

Em 02/16 o déficit previsto era de R$ 111 Bi e o risco 5%. Em 05/16, ainda SEM nenhuma medida de austeridade para o presente ou futuro, o déficit passou para R$ 170 Bi. O que aconteceu com o risco? Diminuiu para 3%, só com promessas.

Embora o senhor possa argumentar que o mercado é um sistema não-causal, os dados sinalizam que, neste caso, a variação no risco se deveu mais à política, do que às contas públicas.

Pastore em 03/16 já previa: “Com impeachment o risco Brasil cai imediatamente”.

"Embora o senhor possa argumentar que o mercado é um sistema não-causal, os dados sinalizam que, neste caso, a variação no risco se deveu mais à política, do que às contas públicas."

Oh, really? E por que você acha que isto aconteceu?

Alex, não pare, por favor, de espancar os adeptos do pensamento antiliberal entre nós.

Se Estado grande (ou agigantado) fosse a solução, o governo Dilma, que contava com (absurdos) 39 ministérios, teria sido eficiente e produzido desenvolvimento. O fracasso daquele modelo intervencionista, perdulário e corrupto diz muito sobre qual caminho devemos seguir para não repetirmos os mesmos erros.

Alex
Por que o BC não age com mão de ferro no câmbio? Adota o câmbio real como "meta" e, do alto das reservas de 370 bi, não deixa a boiada estourar. Os benefícios do câmbio flutuante são maiores que os prejuízos da volatilidade? Ou tô pensando besteira?

Alexandre,

Quando nós soltamos o câmbio em 1999/2000 pq a inflação não voltou com tanta forma? Havia alguma apreensão de que ela voltasse de forma mais agressiva?

Laura

"Por que o BC não age com mão de ferro no câmbio? Adota o câmbio real como "meta" e, do alto das reservas de 370 bi, não deixa a boiada estourar. "

Porque:

1) Meta de câmbio real implica nível de preços desancorado
2) Reservas, mesmo altas, acabam
3) Para quê?

"Quando nós soltamos o câmbio em 1999/2000 pq a inflação não voltou com tanta forma?"

Possivelmente porque se fez um forte ajuste fiscal à época. O superávit primário federal (em 12 meses) era 0,2% do PIB até junho de 1998; dois anos depois estava em 1,9% do PIB, patamar que foi mantido até 2003 (quando subiu).

O consolidado era 0% do PIB em 1998 e 2,8% do PIB em 1999.

"Oh, really? E por que você acha que isto aconteceu?"

No seu post, o senhor defende a tese que o “descontrole fiscal implica elevação do risco-país!”.

No período em análise, os dados mostram que o descontrole fiscal AUMENTOU de R$ 111Bi para R$ 170Bi e o risco DIMINUIU de 5% para 3%.

Como o senhor explica essa diferença entre a sua tese e a realidade?

Alexandre, qual o raciocínio por trás dessa justificativa sua acima:

"Porque:

1) Meta de câmbio real implica nível de preços desancorado"

O que eu pensei:

Uma vez que haja uma meta pro cambio real, e que seja crível, a meta não seria a ancora? Pq eu estaria errado?

O argumento "2) Reservas, mesmo altas, acabam" ja seria o suficiente para abandonar essa besteira de controle cambial, mas como posso desenvolver o raciocinio da meta de cambio real implicar nivel de preços desancorado? Pode explicar melhor?

Laura

O senhor menti para o seu leitor quando afirma que a politica fiscal de Trump sera um desastre.Sob a gestão do Obama ela saltou de 9 trilhoes para 18 trilhões,além disso o congresso e o Senado republicano vai dificultar que Trump aumente de maneira significativa os gastos do governo.

"No período em análise, os dados mostram que o descontrole fiscal AUMENTOU de R$ 111Bi para R$ 170Bi e o risco DIMINUIU de 5% para 3%."

Mesmo? Ou será que apenas houve reconhecimento do problema?

"Como o senhor explica essa diferença entre a sua tese e a realidade?"

Talvez um governo que tenha começado a se mexer para tratar do problema?

"O senhor menti para o seu leitor quando afirma que a politica fiscal de Trump sera um desastre.Sob a gestão do Obama ela saltou de 9 trilhoes para 18 trilhões,além disso o congresso e o Senado republicano vai dificultar que Trump aumente de maneira significativa os gastos do governo."

Desculpe, eu não falo símio...

"mas como posso desenvolver o raciocinio da meta de cambio real implicar nivel de preços desancorado? Pode explicar melhor?"

Dá, mas não aqui (muito tempo)

"Dá, mas não aqui (muito tempo)"

Algum Artigo?Paper?Tese? para leitura, ALexandre?

Laura

Alex, onde pego dados sobre nivel da produtividade das firmas industriais no Brasil com o fim da PIMES?

"Algum Artigo?Paper?Tese? para leitura, ALexandre?"

Capítulo 2 do Inflação e crises, do Pastore.

Como não quero mais tomar o seu tempo e já tem novo post, vou me ater à pergunta:

“Talvez um governo que tenha começado a se mexer para tratar do problema?”

O fato é que o risco baixou em 08/16, quando o senhor escrevia, acho que de forma não muito otimista: “A proposta de criação do teto para as despesas federais é (...) a única iniciativa do governo na área fiscal”

Ou seja, talvez, o risco tenha caído em 40% graças a uma ÚNICA PROPOSTA do governo que, à época, só Deus sabia quando e como seria aprovada pelo Congresso. E que ainda não foi.

Possível, mas improvável. Como leigo, prefiro a tese do Pastore do fator político.

Abs,