teste

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Reignwolf

Aparentemente esse cara existe mesmo. Não é CGI.
Long live rock ‘n’ roll.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Caçadores da credibilidade perdida

O BC surpreendeu os analistas ao elevar a taxa Selic para 10,50% ao ano na semana passada, enquanto a projeção da maioria (e minha também) era 10,25% ao ano. Só não chegou a ser uma surpresa completa porque os preços prevalecentes às vésperas da reunião do Copom embutiam uma probabilidade grande (mas não a certeza) do aumento de meio ponto percentual.

Com este resultado é bastante provável também que a Selic, ao final deste ciclo de aperto monetário, atinja 10,75% a.a., o mesmo nível observado no início do atual governo, se não ainda um pouco mais elevada (talvez 11% a.a.).

Descontadas as (elevadas) expectativas para a inflação nos próximos 12 meses, a taxa real de juros se encontra ao redor de 4,5% a.a., bastante superior aos 2% a.a. estabelecidos pela presidente como objetivo para seu governo, mas insuficiente para domar a inflação, que teima em permanecer na casa dos 6% (ou mais). Precisamente por conta da resistência da inflação se espera que o BC seja forçado a um segundo ciclo de elevação da taxa de juros, devidamente passadas as eleições.

Para um governo que se propôs a fazer o país crescer forte, com inflação na meta e juro de 2%, os resultados observados nos últimos anos (todos sabemos, mas vale repetir: crescimento medíocre, inflação alta e sendo forçado a voltar atrás no seu objetivo de juros) deveriam levar a uma reflexão profunda acerca dos rumos de política econômica.  Como não há a menor chance que isto ocorra, ofereço as minhas ponderações, sem, é claro, qualquer esperança que sirvam para o aprendizado dos (ir)responsáveis de plantão.

Conforme alertei quando o BC promoveu o “cavalo-de-pau” na gestão da política monetária em agosto de 2011, a redução na marra das taxas de juros nos custou muito caro. Mesmo com o “apito amigo” (a mudança no cálculo do IPCA, que reduziu o índice em 0,7% em 2012 e, mais recentemente, os controles dos preços administrados), a inflação não convergiu à meta. Pelo contrário, a tendência tem sido de aceleração.

Ademais, ao continuar reduzindo taxas de juros com a inflação em alta o BC conseguiu demolir a credibilidade conquistada em anos anteriores. As expectativas de inflação, que antes se agrupavam ao redor da meta, hoje se situam confortavelmente acima dela, algo como 1,5 ponto percentual em 2014 e 1 ponto percentual no ano que vem. Apenas este desenvolvimento já forçaria o BC a trabalhar com uma taxa de juros entre 1 a 1,5 ponto percentual a mais do que seria requerido caso tivesse mantido as expectativas sob controle, mas o impacto não se encerra aí.

Ninguém sabe o valor preciso, mas estima-se que para trazer a inflação de volta à meta (e apenas ao final de 2015) o BC teria que elevar a Selic para mais de 12% a.a. ainda no primeiro semestre deste ano. Em contraste, se tivesse feito seu trabalho quando havia tempo e credibilidade para tal, hoje muito provavelmente poderia manter a Selic abaixo de 10% a.a. com a inflação controlada.

Não o fez por subserviência a um governo voluntarista que acredita dominar todos os botões necessários para controlar o funcionamento da economia, da taxa de juros ao retorno requerido pelos empresários na operação dos seus negócios, passando, é claro, pela taxa de câmbio “Cachinhos de Ouro”, nem quente o suficiente para acelerar a inflação, nem fria o bastante para desestimular a indústria nacional.

Face ao fracasso retumbante de sua política o BC tenta, tardiamente, recuperar a credibilidade perdida. No entanto os limites à sua ação ficam claros na própria comunicação aos mercados. Ao sugerir que sua atitude mais dura se limita ao atual momento e evitar um compromisso mais forte com a meta de inflação, o BC revela não dispor da autonomia para fazer o necessário no campo da política monetária.


Da mesma forma que em 2011, tal postura ainda há de nos custar caro, mas certas lições parecem nunca ser aprendidas.

Quem brinca com fogo...


(Publicado 22/Jan/2013)

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Entrevista ao Brasil Econômico

Ex-diretor do BC e doutor em Economia pela Universidade da Califórnia, Alexandre Schwartsman diz que a prioridade do BC não é a inflação
Ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central (BC) e doutor em Economia pela Universidade da Califórnia Alexandre Schwartsman tem se destacado como um dos críticos mais ferozes da atual política econômica. E justificou essa fama em entrevista ao Brasil Econômico. Para ele, o governo erra ao insistir em soluções voltadas para o aumento da demanda, quando o problema está na limitação da oferta, prejudicada pela baixa produtividade. Schwartsman atribui os equívocos à presidenta Dilma Rousseff. "Vamos falar a verdade: a política econômica no Brasil emana diretamente da Presidência da República. É ali que a responsabilidade está".
Para ele, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, apenas seguem a orientação da presidenta, que não está disposta a pagar o preço de um ajuste fiscal, muito menos em ano eleitoral. O BC, acrescenta, é subserviente e submete-se às determinações do Planalto. "A prioridade do BC não é a inflação. É o crescimento, o câmbio. Dessa forma, perdeu o controle das expectativas. É só olhar para a gestão do BC para saber que é temerária", ataca.

Qual a tendência para este ano?
Muito parecida com o ano passado, as mesmas forças estão valendo hoje. O principal problema é a restrição no lado da oferta. Ela está com dificuldade de crescer. Ao contrário de anos anteriores, quando havia grandes contingentes de pessoas para trabalhar, hoje não há mais. A produtividade de trabalho no Brasil tem crescido em torno de 1,5% ao ano. Não escapa disso. Junte a isso a expansão da população economicamente ativa, e o limite para crescimento da economia é de 2% ou 2,5%. A estratégia de crescimento do governo, de botar mais demanda na economia, com crédito e desonerações, vai muito bem quando há capacidade ociosa na economia. Não é o que se tem hoje.
Estamos condenados a esse crescimento?
Para citar o Copom, "neste momento", sim. Não é um destino inexorável. É possível mudar com as políticas para fazer a produtividade crescer. Com muito atraso, depois de métodos equivocados, o processo de concessões parece estar avançando. E a infraestrutura é muito importante para a produtividade. Hoje, investimos 2% do PIB em infraestrutura. Quando aumentar essa participação, a produtividade subirá, mas não será da noite para o dia. Tem um conjunto de reformas, em particular nas áreas tributária e trabalhista, que poderiam destravar a produtividade, mas não vejo ninguém muito interessado em promover isso. Não estamos condenados, mas é preciso trabalhar. Demanda, é fácil crescer. O BC corta juros, o governo aumenta gasto. Um par de canetadas resolve. Mas quando a recessão está na oferta, é preciso trabalhar.
E a confiança do empresário?
Nosso nível de investimento, que traduz a confiança do empresariado, é baixo. Um pouco mais alto do que já foi, mas continua entre 18% e 19% do PIB. A confiança, entretanto, não é tudo. O empresário pode querer investir mais e não ter como. O consumo das famílias está em torno de 62% do PIB, o do governo fica na casa de 20%. Somados, chegam a quase 83%. O que sobra para investir, sem aumento de déficit externo, é cerca de 17%. Complicado. Para aumentar o investimento, é preciso pensar em um programa de ajuste fiscal de longo prazo. É aquele mesmo tipo de ajuste classificado de rudimentar por gente do governo. A chance de isso acontecer é baixa. Falta condição para o empresário investir, não basta ele querer.
Quais são as bases desse ajuste?
Principalmente controlar o gasto corrente do Brasil. O gasto do governo, que era de 14% em 1997, hoje é de 19%. O funcionalismo tem ficado mais ou menos estável. Foi montado um grande esquema de transferência...
Você fala dos programas sociais?
O Bolsa Família é troco, custa R$ 25 bilhões por ano, e não é ruim. É só 0,5% do PIB.
Seria mais grave sem esse nível de arrecadação?
Se não houvesse esse nível de arrecadação, a gente já teria quebrado, não teríamos como sustentar esse volume de gastos. A estimativa de carga tributária, de 36% do PIB, é alta e trabalhosa. O Banco Mundial estima que uma empresa média típica no Brasil gasta algo como 2.800 homens/hora/ano, é o mais alto custo do ranking, mais do que o dobro do segundo lugar. Nos países desenvolvidos, o índice fica entre 300 e 500. Cada empresa gasta em excesso mais de 2 mil homens/hora/ano para uma tarefa essencialmente improdutiva, que é preencher papel e pagar imposto. Imagina o potencial que a gente teria ao alocar essas pessoas em tarefas mais úteis. É um custo imposto pelo setor público brasileiro ao resto da economia que afeta a produtividade. Nada me parece mais óbvio do que tirar esse contingente de pessoas que está preenchendo papel e botar para fazer algo melhor. É o fruto que está baixinho na árvore. É só pegar.
Com essa despesa corrente alta, é preciso manter a arrecadação. Não há como pensar numa reforma tributária hoje que reduza a carga tributária?
Não tenho nenhuma ilusão de que seja possível essa redução. O que deveria ser um objetivo é manter a carga tributária, mas tentar uma estrutura menos caótica do que a atual.
Isso é um foco de inflação?
Acaba acontecendo em setores que não sofrem concorrência externa, como o de serviços. Como a gente caracteriza as grandes linhas econômicas brasileiras hoje? A demanda interna sobe mais rápido do que o PIB; a inflação de serviços é mais alta e puxa o índice geral; o setor industrial cresce pouco, mas a demanda maior, em última análise, vira aumento de importação. O desequilíbrio externo, portanto, também está ligado a isso. Se conseguirmos fazer a produtividade crescer bem mais rápida, essa restrição de oferta se afrouxa, mudando o ciclo.
Parece que o único antídoto que temos hoje em dia é o aumento da taxa de juros...
É o remédio para o problema inflacionário, mas para outros, não. A oferta cresce menos do que a demanda. Para controlar a segunda, é preciso aumentar os juros. A gente poderia fazer a mesma coisa com a política fiscal. Como não fazemos, sobra a política monetária, hoje atrasada e insuficiente. Não vai resolver o problema, vamos continuar com inflação alta.
Qual seria o nível de juros para trazer a inflação a 4,5%? 
Entre 12% e 13%. Não vamos conseguir com menos que isso.
Mas como ficaria o crescimento?
Certamente abaixo do que provavelmente teremos este ano. Até dá para controlar a inflação só com os juros. A questão é qual o preço que se quer pagar.
O preço seria menor com instrumentos fiscais?
Certamente. Mas, mesmo com instrumentos fiscais, recuar a inflação passa por diminuir a demanda. É o que fazemos países que passam por um momento de inflação muito baixa. Mas quando têm de fazer um programa de desinflação, passamos por alguma desaceleração do PIB por algum tempo. Desse jeito, o mercado de trabalho afrouxa, o salário diminui e a inflação é trazida para baixo. Não tem mágica. O juro não tem relação direta com a inflação. Ele bate na demanda interna e o ciclo começa.
Mas essa cadeia seria acionada em um ano eleitoral?
Acho altamente improvável. Por isso eu vejo um cenário inflacionário que dificilmente vai ser melhor do que o do ano passado. A verdade é a seguinte: a inflação ficou em 5,91% em 2013, mas à custa do controle extraordinário de preços - redução na tarifa de energia, defasagem nos preços dos combustíveis, tarifas de transportes urbanos congeladas. Controlar a inflação segurando preços públicos é facílimo. O problema é que não funciona em lugar nenhum por mais que uns poucos meses.
Acha possível manter esse represamento ainda este ano?
Muito difícil. Os preços administrados subiram, em média, 1,5% ano passado. Para 2014, o BC prevê subida de 4,5% nos preços administrados. Acho exagerado. Supondo que o reajuste seja de 3,5%, é um aumento de 2 pontos percentuais nessa linha. De acordo com o peso dela, vai acabar adicionando algo como 0,6 ponto na inflação, pondo a taxa muito próxima de 6,5% no fim do ano, juntando com os preços livres. Nossa situação inflacionária não é tranquila; o próprio BC diz que não vê a inflação voltando ao centro da meta nem em 2015. Essa administração perdeu 2011, 2012, 2013, já admitiu que vai perder em 2014 e, muito provavelmente, 2015.
Como o sr. vê a postura do governo com a inflação?
Há um completo descompromisso. Uma meta, perdida por tantos anos, é muito descuido. Ou incompetência. Tentar por cinco anos e não conseguir é muito errado. Subserviência, descuido, incompetência - pode escolher. Isso foi cometido pelo BC ou por quem manda nele.
Mas de quem seria essa culpa?
Vamos falar a verdade: a política econômica no Brasil emana diretamente da Presidência da República. É ali que a responsabilidade está. Tem os intermediários: o Tombini, o Guido, mas obviamente eles não são os formuladores da política econômica.
A presidenta Dilma em Davos pode conseguir evitar o rebaixamento da nossa dívida?
Se discurso resolvesse problema, ninguém teria dificuldade econômica. O que interessa nesses momentos é o que você faz - o que você fala, é outra coisa. Recuperei uma entrevista da Dilma logo no começo do mandato dizendo que a inflação era a prioridade total e em nenhum ano chegou perto do centro da meta. É quase como aquela história de criança: todo mundo quer comer, mas ninguém quer fazer o bolo. Todos querem inflação baixa, mas ninguém está disposto a pagar o custo. Há cerca de um ano, a própria presidenta da República disse que essa ideia de baixar o crescimento para controlar a inflação era totalmente equivocada. Por isso que a gente não baixa a inflação.
Mas quem defende isso é acusado de pregar o desemprego, e são vistos como "do mal"...
Neste caso, sou eu. Mas não apenas eu. O sujeito acha que vai diminuir a inflação sem passar por um aumento de desemprego? Desculpe, ele está enganado. Veja o que o Alan Greenspan (ex-presidente do Fed) fazia quando precisava desinflacionar a economia - elevava a taxa de desemprego. Não porque ele era mau, mas porque tinha um objetivo. Nada é de graça. Mas a partir do momento que o BC consegue consolidar as expectativas de inflação em torno da meta, como fizemos no período até 2008, é possível manter a economia perto do pleno emprego sem grandes tensões inflacionárias. O problema é quando se perde o controle sobre as expectativas. Aí a economia cresce mais devagar, com inflação mais alta. A troca de longo prazo, "vou crescer mais com inflação mais alta", já foi provada como errada, não só pela teoria econômica, como empiricamente. Existe, sim, uma troca de curto prazo: se precisa baixar a inflação, o custo temporário é desemprego. E o benefício é duradouro. Ignorar essa lição, politicamente é muito cômodo, mas não resolve nosso problema.
Qual foi o efeito do aumento da Selic? A dosagem foi ideal?
Só sabemos o que o BC fez. "Como seria a trajetória da inflação semos aumentos recentes?" - é uma pergunta a ser respondida. Sobre a dosagem, cabe uma referência a Santo Agostinho: "Por favor, dai-me continência e castidade, mas não agora". O BC começou tarde e devagar, a contragosto. E rapidamente deixou de dar qualquer indicação de que está disposto a buscar o centro da meta. É difícil inferir qual o objetivo do BC. A parte fácil é perceber que não é 4,5%. Numa época pensou-se em 5,5%. Me parece mais provável alguma coisa abaixo de 6,5%. O BC parou inclusive de falar em "convergência tempestiva". É por isso que dizem que o BC perdeu a credibilidade, que foi construída lá atrás com um custo não desprezível.
Quando isso aconteceu?
Em 2011, o BC falou que a expectativa da inflação estava para cima, mas que iria cortar o juro porque o mundo iria desinflacionar o Brasil para a gente. Mesmo com sinais cada vez mais claro sem contrário, ele apenas assistiu ao movimento de agosto de 2011 a dezembro de 2012, com a crise já rolando. Ficou muito claro que a prioridade do BC não era a inflação. A prioridade do BC é crescimento, é o câmbio, não é inflação. Ele perdeu o controle das expectativas, o que explica o que estamos vivendo. É só olhar para a gestão do BC para saber que ela é temerária.
É um problema de equipe?
Não gosto de "fulanizar". Não é deficiência técnica. O que falta ali é autonomia. Não tenho certeza se o que está na cabeça do Tombini é uma inflação um pouco menor do que 6,5%, ou se é essa a orientação que ele recebe do governo como um todo. Sem tirar a responsabilidade do Tombini, me inclino para a segunda hipótese. Está mais do que evidente que Tombini não tem autonomia para fazer o necessário.
Era diferente no período em que você trabalhou no BC?
Em setembro de 2004, começamos um processo de aperto monetário. Logo depois, veio um colunista de jornal (supostamente bem conectado) e escreveu que não tínhamos autonomia para fazer o que era necessário. Foi um "senta que o leão é manso". A curva de juros, que havia subido, caiu depois do artigo. Em outubro, subimos de novo, e veio novamente a matéria derrubando a curva futura. Novembro, a mesma coisa. Quando foi dezembro, a ordem se inverteu. O colunista escreveu antes da reunião que a taxa não subiria. Quando nós elevamos a Selic novamente, o mercado falou "Opa!", e o jogo mudou. A curva de juros futura, depois de três tentativas sabotadas por algo que não tinha a ver com nossa comunicação e estratégia, subiu. Isso aconteceu porque o mercado caiu em si, enxergou a autonomia no BC. Pagamos mais caro por isso do que se tivéssemos feito sem a interferência. Hoje, é o contrário.
Havia mais autonomia no tempo em que o sr. trabalhou no BC?
Sem dúvida. Não eram pessoas que tinham simpatia política pelo partido - nem digo que a atual tenha. Sem autonomia, o Henrique Meirelles não poderia ter escolhido aquela equipe, e não digo só por mim. Hoje, o Tombini não escolhe o time que quer; escolhe dentro das possibilidades que lhe são permitidas. Chega ao ponto de, antes de subir os juros, ele ter que ouvir primeiro o que pensam o Yoshiaki Nakano, o Delfim Netto e o ex-presidente do Palmeiras... Da próxima vez pergunta para o Juvenal Juvêncio (presidente do clube São Paulo).
No ano passado, Delfim falou em tempestade perfeita...
Tempestade perfeita para quem? Os sinais são de que a economia norte-americana pode crescer talvez mais de 3% esse ano. Com isso, a curva futurade juros lá está subindo. Mas o motivo é bom. A maior economia do planeta, um quarto do PIB do mundo, cresce mais rápidodo que o imaginado. Tempestade para quem? Obviamente, o Brasil é fechado, não fez os ajustes, e não vai aproveitar os efeitos positivos. Mas havia quem reclamava da taxa de câmbio e que agora não pode mais reclamar. E ainda bem que o câmbio flutua. Vamos sofrer mais com a situação porque os nossos fundamentos não estão bons. Alguns vizinhos, como Colômbia, Chile e México, vão aproveitar o momento melhor do que a gente. Para eles, a tempestade vai ser oportunidade.
Dos pré-candidatos a presidente, há algum mais consciente dessa situação?
Sou cético. Conheço economistas extraordinários que são próximos aos candidatos, como o Eduardo Giannetti com a Marina Silva, e o Armínio Fraga com o Aécio Neves. Mas não sei o quanto eles vão influenciar na formulação de políticas. Quem imaginaria que o Palocci seria o ministro da Fazenda do Lula? Se o Aécio for eleito, uma possibilidade muito remota, quem garante que o Armínio dará as cartas? Gostaria muito que fosse ele, principalmente por ser competente e um cara legal. A impressão que eu tenho é que o discurso que eu faço não tem a menor ressonância na sociedade brasileira. As pessoas querem o que estamos vendo, de preferência com inflação mais baixa.
Carlos Augusto Montenegro, do Ibope, diz que o eleitor médio não sabe o que é PIB, Selic, Copom, ele quer saber do bolso dele, do preço no supermercado. Para esse cidadão, a inflação assusta?
A questão toda é quem vai colocar o guiso no gato. Isso é Churchill, amigo: "Sangue, suor e lágrimas". O discurso do ajuste não elege ninguém. Quem aceita uma enxugada no setor público não quer que isso afete a sua parte. Aí fica difícil.
Se a Dilma for eleita, será que em 2015 haverá um freio de arrumação?
Esse é "o" debate, a pergunta que todos estão fazendo. Minha inclinação é de que o freio de arrumação poderá vir de outro fator, mas não da reeleição. Em 2011, tinham a mesma oportunidade de pôr a casa em ordem, mas em seis meses já estavam como pé no acelerador.
Seria resultado da visão que Dilma tem da economia?
Estou convicto disso. Olhe as afirmações dela durante a eleição e compare como que foi adotado. "Eu quero inflação baixa." Ah, eu também quero ser rico, bonito e saudável. Mas, estou disposto a trabalhar para ser rico, malhar para ser saudável e fazer um implante de cabelo para ser bonito? O gasto público não tem controle, só cresce, e não significou mais investimento. Não há nenhum esforço para controlar a carga tributária. A desoneração é pontual e vista como um incentivo para setores ganhadores. O BNDES está maior do que nunca.
Dilma é desenvolvimentista, keynesiana?
Sim.
E o sr., como se vê?
No meu blog, me defino como paleoliberal, mas é um exagero. Sou menos liberal que meus leitores e amigos.
Olha a careta!

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

A face oculta da inflação

Apesar de o BC ter desistido de trazer a inflação à meta, adotando um objetivo para lá de medíocre (alcançar um número menor do que o de 2012), e a despeito de controles de preços como há muito não se via, aquela atingiu 5,91% no ano passado, ficando pelo quarto ano consecutivo bastante acima de 4,5%. Sob a atual diretoria o desvio da inflação com relação à meta foi, em média até agora, 1,6% por ano, marca nada invejável, ainda mais num ambiente global em que o problema tem sido precisamente o oposto.

Há quem ainda acredite, equivocadamente, que o problema vem dos preços dos alimentos. Estes, de fato, subiram fortemente no ano passado, quase 8,5%. Os preços dos produtos consumidos no domicílio aumentaram 7,7%, enquanto o preço da comida fora de casa se elevou ainda mais, 10%, discrepância relativamente modesta, mas reveladora.

Mais importante, porém, é a diferença entre os preços dos alimentos no atacado e no varejo. De acordo com a Fundação Getúlio Vargas, os preços de produtos agrícolas no atacado caíram 1,8% no ano passado, desempenho difícil de reconciliar à primeira vista com o comportamento dos preços ao consumidor.

A verdade, porém, é que, em ambos os casos, as razões da discrepância são as mesmas, associadas de perto à natureza da inflação dos últimos anos.

Considere a diferença entre a inflação de alimentos no domicílio e fora dele. É claro que o prato de arroz e feijão consumido fora do domicílio é distinto daquele servido em casa. No primeiro caso há custos, tais como aluguéis, o salário do cozinheiro, dos garçons, etc., não presentes no segundo. Posto de outra forma, o prato do restaurante contém uma medida considerável de serviços além de arroz e feijão.

Da mesma forma, os alimentos colocados à disposição dos consumidores num supermercado carregam consigo uma variedade de serviços: aluguéis, transportes, pessoal, etc. O feijão do varejo não é o mesmo feijão do atacado, mas um produto mais elaborado (por exemplo, está ao alcance do consumidor, que não precisa viajar para uma região produtora para obtê-lo).

O conteúdo de serviços explica, pois, porque o feijão do supermercado é mais caro que o do atacado e, da mesma forma, porque o prato de feijão do restaurante é ainda mais caro, mas não esclarece o motivo do ritmo de aumento de preços ser distinto.

Ocorre que a inflação de serviços tem sido particularmente intensa. Apenas no ano passado atingiu pouco menos de 9%, bastante acima do IPCA.

Não é difícil entender esta dinâmica. Por um lado, premidos por um mercado de trabalho bastante apertado, os salários têm aumentado a uma velocidade bem maior que a da produtividade do trabalho. Assim, nos 12 meses terminados em novembro de 2013, o salário médio nominal aumentou 8%, enquanto o crescimento da produtividade deve ter ficado na casa de 1%, implicando aumento do custo unitário do trabalho.

Por outro lado, ao contrário dos bens em geral, serviços não estão sujeitos à concorrência internacional. Enquanto no caso dos primeiros o repasse dos custos é limitado pelo preço do concorrente externo, quando se trata de serviços, o limite é a demanda, isto é, quanto o consumidor está disposto a pagar. Em particular, a demanda tem sido forte o suficiente para acomodar aumentos da ordem de 9% nos últimos 3 anos.

É este o fenômeno que elucida o aparente paradoxo de preços de alimentos em queda no atacado e em alta no varejo: trata-se da “face oculta” da inflação de serviços.


Esclarece também, a propósito, a miopia dos que fazem uma explicação “contábil” da inflação, apenas multiplicando os aumentos de preços dos produtos por sua ponderação no IPCA. Sem uma base teórica que lhes permita entender o comportamento por trás dos fatos econômicos, repetem chavões sobre preços de alimentos e não conseguem capturar os elementos essenciais da dinâmica inflacionária no Brasil.

Não dá para ignorar o outro lado


(Publicado 15/Jan/2014)

domingo, 19 de janeiro de 2014

I am a Ninja. How about you?


Se você puder assistir esse vídeo até o final e não adquirir o hábito de bradar “I am a Ninja” aleatoriamente e fora de contexto, você provavelmente tem melhor gosto musical e auto-controle que este escriba.

 

Die Antwoord é um grupo de rap da África do Sul. Suas letras e vídeos chocam pela estupidez e falta de respeito por normas de bom gosto e decência. “Enter the Ninja” é, entretanto, minimamente civilizada, e eu consegui chegar até o final do vídeo (não consegui terminar alguns de seus outros vídeos).  


Em meu próximo post musical, prometo um rock progressivo para compensar.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

The Economics of Brushing Teeth

Sensacional. Link aqui.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

O ministro nervosinho

Muito embora o ministro da Fazenda tenha afirmado que sua decisão de antecipar o anúncio do resultado fiscal do ano passado (presumindo que não esteja errado, como esteve em outubro) fosse destinada a “acalmar os nervosinhos”, não é preciso muito esforço para perceber que são seus próprios nervos que se encontram à flor da pele.

Caso não estivessem, talvez lhe fosse possível perceber a futilidade da sua iniciativa. A começar porque só alguém muito divorciado da realidade poderia acreditar que a divulgação de um número tão conspurcado quanto o dado oficial do superávit primário poderia moderar os receios do mercado.

Ainda que, segundo o ministro, este tenha atingido um valor em torno de R$ 75 bilhões, sabe-se que apenas em novembro o montante de receitas não recorrentes atingiu nada menos do que R$ 35 bilhões, quase metade do saldo do ano. Na verdade, até novembro do ano passado, as receitas de concessões, dividendos e o Refis (o refinanciamento de dívidas tributárias em condições favoráveis) chegaram a R$ 59 bilhões. Assim, enquanto o número oficial do governo registra um superávit federal equivalente a 1,9% do PIB nos 12 meses terminados em novembro, o número corrigido – reflexo mais fiel do esforço fiscal – mal alcança 0,3% do PIB.

Neste sentido, como todos os analistas sérios são capazes de corrigir tais dados (com pequenas diferenças de abordagem), ninguém deve ter ficado particularmente impressionado com o anúncio autolaudatório. Se o ministro esperava fanfarras em resposta à sua entrevista, deve ter ficado muito decepcionado.

Mais decepcionado, porém, ficou o mercado. Ao antecipar um resultado que nada vale e se esquivar de qualquer comprometimento mais firme acerca do desempenho fiscal futuro, a mensagem passada ao setor privado não poderia ser mais clara: não há qualquer plano que contemple a possibilidade de um ajuste fiscal neste ano que se inicia, nem talvez sequer nos próximos, dadas as convicções do governo sobre o tema.

A reação negativa, expressa na desvalorização da moeda e elevação das taxas de juros, não ocorreu, assim, nem por acaso, nem por força de fatores internacionais, mas sim por conta da percepção cada vez mais disseminada de piora dos fundamentos do país. Mais um tiro, enfim, que saiu pela culatra, marca registrada hoje em dia da gestão de política econômica no país.

Isto dito, o nervosismo do ministro também se escancara em sua relação com o mercado. Ao contrário de seus antecessores imediatos, que reagiam de forma serena mesmo quando divergiam da análise do setor privado, o ministro quase sempre busca o enfrentamento, apenas para mais tarde reconhecer – forçado pelas circunstâncias – seus equívocos crescentes, como, mais recentemente, no que se refere às mudanças de regras para as concessões de infraestrutura.

É natural, em face do desempenho medíocre da economia, que o ministro da Fazenda esteja sujeito a toda sorte de pressões, inclusive do próprio governo, cujos objetivos políticos dependem, em certa medida, de crescimento mais vigoroso do que o ostentado pelo Brasil nos últimos anos.

O que se espera, contudo, é que o titular do cargo tenha as condições de suportar estas tensões, e que seja capaz de formular respostas efetivas aos problemas enfrentados no front econômico. Em particular, que suas falas não contribuam para o aprofundamento da crise de confiança que hoje assola o país.

Neste último aspecto, a falta de compostura do ministro da Fazenda, mesmo depois que quase 8 anos no cargo, revela sua inabilidade para trabalhar sob pressão e compromete ainda mais sua já escassa capacidade de formulação de política.

Num mundo caracterizado por preços elevados de commodities e liquidez mundial abundante é mais fácil controlar os nervos; quando estas condições, porém, se alteram para pior, quem não tem preparo fica mesmo “nervosinho”.

- Eu não tô nervoso, p...!
- Só fico p... de ter que acalmar o mercado
- Fica calmo mercado, c...!

(Publicado 8/Jan/2014)

Rap-folk polonês

A mão visível é cultura.
Nunca havia passado pela minha cabeça que algum dia eu ficaria viciado em assistir videos de folk-rap rural polonês.
Para vocês, apresento Donatan com "Nie lubimy robić".

sábado, 11 de janeiro de 2014

Economia da Unicamp é tecnologia também!


Mais uma contribuição do departamento de Economia da Unicamp para a tecnologia farmacêutica brasileira: o indutor de vômito do ‘fessor’ Fernandinho zero-à-esquerda.


Funciona até para cachorros neo-liberais

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

2014: o ano que já acabou

Não que eu acredite muito nisto. Se aprendi algo ao longo dos anos, é que eventos inesperados têm o péssimo hábito de ocorrer justamente quando não se espera e cenários que parecem dados - como baixo crescimento e alta inflação em 2014 - podem tomar rumos surpreendentes. Isto dito, para ser sincero, creio mesmo que este ano não será muito diferente de 2013, mas o verdadeiro objeto do título não é exatamente o desempenho concreto da economia, mas sim a percepção que, apesar dos problemas, são baixas as chances de mudança na política econômica, pelo menos até 2015.

Não há economista sério que não esteja, em algum grau, preocupado com os desenvolvimentos recentes. Mesmo os que, até há pouco, faziam da defesa da política econômica um estilo (quando não um meio) de vida já começaram, cautelosamente, a recuar de suas trincheiras.

A expansão medíocre do produto, a inflação mal e mal contida a golpes de controles diretos de preços, o crescente déficit externo, somados ao desempenho pífio da produtividade, sugerem que o atual arranjo de política é insustentável.

Há, a bem da verdade, exemplos de países que mantiveram (ou mantêm) situações insustentáveis por períodos até bastante longos, alguns do quais desconfortavelmente próximos, mas não há casos de economias que hajam prosperado sob estas condições. Pelo contrário, há sempre um momento em que a farsa se desfaz e a crise sobrevem. 

Sabe-se, portanto, ser necessária uma mudança nos rumos de política econômica para evitar que o país atinja um estado do qual não conseguirá sair sem consequências dolorosas. É cada vez mais claro, em particular, que o governo precisa encarar um considerável ajuste fiscal, principalmente no que se refere às suas despesas.

Não se requer, contudo, nenhum conhecimento político mais profundo para concluir que - tendo evitado fazê-lo sob condições eleitorais mais favoráveis - não parece nada provável que o governo possa se engajar num esforço de austeridade às vésperas da eleição. Ainda que Brasília acene timidamente com promessas de não piorar adicionalmente seu já lamentável desempenho, os estados, crescentemente livres das amarras previamente impostas pela União, devem aumentar ainda mais seus gastos.

Por outro lado, o BC sinaliza com a interrupção do processo de aperto monetário ainda no primeiro trimestre, mantendo a taxa de juros em níveis que seus próprios modelos apontam ser incompatíveis com o retorno da inflação à meta até pelo menos o final de 2015.

É neste aspecto preciso que o ano que hoje se inicia parece já ter terminado. Foi cruzado o Rubicão e os dados da política econômica estão lançados: o que irá ocorrer em 2014, portanto, está determinado deste ponto de vista. O ambiente externo e outros fenômenos imprevisíveis terminarão de dar forma à economia este ano, mas a contribuição do governo foi feita.

A dúvida (talvez a esperança) que persiste refere-se a 2015. Um novo governo se instalará (muito provavelmente a continuação do atual) e terá a oportunidade de promover os ajustes requeridos livre da camisa de força eleitoral. Resta saber se a aproveitará.

Confesso meu pessimismo. No cenário político mais provável, isto é, continuidade, a vitória nas eleições dificilmente poderia ser interpretada como pedido de mudança, muito pelo contrário.

A menos que alterações sejam impostas por desenvolvimentos desfavoráveis no front externo (por exemplo, um rebaixamento das notas do país, ameaçando o grau de investimento), a tendência, creio, seria a de redobrar a aposta fracassada: piora fiscal, descaso com a inflação e intervenção indiscriminada, predominando a ideologia onde deveria governar o pragmatismo.


E aí sim iremos testar os limites da sustentabilidade e atribuir nosso fracasso à "guerra psicólogica"…



(Publicado 1/Jan/2014)