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sexta-feira, 28 de junho de 2013

Sexta e música (aposto que esta vocês não esperavam!)

Continuo procurando um vídeo com o Tim Maia ao vivo, mas esta versão do Roberto (do "Diamante Cor-de-Rosa") é muito boa! Caso alguém me ache uma com o Tim (ao vivo!), posto no mesmo minuto.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Desta vez não será diferente

Confesso que os protestos me pegaram completamente de surpresa. Embora qualquer um que tenha lido minhas reclamações constantes acerca do rumo do país possa concluir que ando insatisfeito, jamais imaginei que este sentimento fosse compartilhado e profundo o suficiente para gerar os movimentos dos últimos dias.

Da mesma forma, estaria mentindo se afirmasse entender o que ocorre. Ainda que meu instinto de economista aponte para a aceleração da inflação como um elemento que deve ter contribuído para os protestos, é forçoso reconhecer que eles parecem refletir temas bem mais amplos, possivelmente ligados à percepção de um distanciamento crescente entre a população e seus representantes, materializada, por exemplo, em políticas públicas que não atenderiam seus reais anseios.

De qualquer forma, não me acho suficientemente equipado para analisá-los e explicá-los. Onde talvez possa contribuir, correndo o risco inerente a todas as análises feitas no calor do momento, é na tentativa de entender as implicações deste fenômeno para a formulação de política, em particular na sua faceta macroeconômica. E, da forma como vejo o problema, as implicações não são nada boas.

São essencialmente duas as razões que apontam para esta conclusão, ambas bastante exploradas em minhas colunas recentes.

A primeira diz respeito à natureza da desaceleração econômica dos últimos anos, que, no meu entender, reflete problemas associados à capacidade limitada de crescimento do país, seja pelo esgotamento da mão-de-obra disponível, seja por conta de gargalos crescentemente severos em praticamente tudo associado à esgarçada infraestrutura.

Já o entendimento do governo tem sido distinto, haja vista sua insistência em políticas para estimular a demanda, em particular o consumo, como recentemente expresso nos incentivos para a aquisição de eletrodomésticos. Muito embora estes tenham repetidamente se provado incapazes de fazer a economia acelerar de forma decisiva, a reação quase instintiva do governo em lançar mão deles a cada número ruim no campo da atividade econômica sugere que o diagnóstico oficial ainda aponta para a fraqueza da demanda como o motivo para o baixo crescimento.

Não por acaso, portanto, o resultado tem sido crescimento baixo com inflação alta, combinação profana que certamente colabora para a erosão da popularidade do governo. No entanto, políticas que poderiam corrigir estes desequilíbrios – notadamente a redução dos gastos públicos – e mais à frente recolocar o país na rota do crescimento sustentado implicariam custos em termos de atividade no curto prazo, em particular no período imediatamente anterior à eleição.

Isto nos traz à segunda razão. Se há algum objetivo do governo hoje, trata-se da manutenção do poder, seja pela reeleição da presidente, seja através do ainda remoto, mas possível, retorno do ex-presidente à linha de frente no ano que vem. Em qualquer um destes cenários, o apetite por medidas impopulares, ainda que necessárias, é naturalmente reduzido.

Neste contexto, os protestos agudizam o problema. Para um governo já pouco convencido acerca de diagnósticos discordantes e com objetivos políticos que se sobrepõem à estabilidade, a pressão adicional vinda das ruas se torna um incentivo poderoso ao reforço de políticas que irão demandar mais do Tesouro do que é possível sem comprometer adicionalmente o já precário equilíbrio macroeconômico.


Obviamente não pretendo insinuar que a estabilidade é incompatível com democracia, mesmo porque exemplos desta convivência não faltam, inclusive na América Latina, região que, há pouco, não se caracterizava nem por uma, nem por outra. Mas, na falta de instituições que protejam a estabilidade dos interesses políticos de curto prazo, turbulências políticas terminam por sacrificá-la no altar eleitoral. E nada me diz que desta vez será diferente.

Eu de novo!?

(Publicado 26/Jun/2013)

sexta-feira, 21 de junho de 2013

SEEEEXXXTTTAAA!!!

Trata-se apenas da faixa que abre o melhor álbum de jazz de todos os tempos (Kind of Blue), com Miles Davis, John Coltrane (nesta versão, que não é a do álbum,  não está o Cannonball Aderly), Paul Chambers, Jimmy Cobb e Wynton Kelly (Bill Evans não tocou esta faixa Na verdade, no original Bill Evans tocou nesta faixa; Wynton Kelly tocou em Freddie Freeloader). Valeu a dica Paulo!



Semana que vem, a pedidos, algo de MPB!

quarta-feira, 19 de junho de 2013

À caça do próprio rabo

Desde meados de maio houve um encarecimento visível do dólar, que saiu de valores próximos a R$ 2,00 para algo em torno de R$ 2,18, provocando várias reações das autoridades, do retorno às intervenções do BC até a eliminação de impostos que haviam sido criados para inibir a venda da moeda norte-americana. O governo não disfarça seu desconforto com a depreciação do real, o que não deixa de ser curioso, consideradas todas as medidas que haviam sido tomadas precisamente para este fim.

É verdade que o dólar mais caro não é uma exclusividade nacional. Nas últimas semanas ele se fortaleceu contra quase todas as demais moedas e não há razão para que o real se comporte de forma diferente. Pelo contrário, em trabalho com Tatiana Pinheiro estimamos que a valorização de 10% do dólar relativamente a uma cesta de seis moedas de países maduros se traduz num encarecimento de 6% do dólar face ao real.

No caso, a perspectiva de crescimento mais positiva para a economia norte-americana sugere a possibilidade de uma normalização mais rápida da política monetária naquele país. É bom que se diga que a normalização propriamente dita ainda se encontra muito distante, mas a mera expectativa que possa acontecer foi suficiente para elevar as taxas de juros de 10 anos em quase 0,5% (para perto de 2,2% ao ano), uma mudança nada trivial, ainda que inferior à ocorrida no Brasil, onde o rendimento do título equivalente aumentou pouco mais de um ponto percentual.

A desvalorização do real não resulta, portanto, de qualquer problema intrínseco do país. Já no que se refere às consequências da depreciação cambial a preocupação é maior e é aqui que o Brasil se diferencia de várias outras economias.

Embora não nos enquadremos nos casos mais patológicos dos países até há pouco apontados por nossos “keynesianos de quermesse” como modelos de política econômica, a verdade é que não fizemos todos os preparativos para a eventualidade de uma mudança das condições internacionais de liquidez.

De fato, exceção feita à acumulação de reservas, as políticas dos últimos anos deixaram o país mais vulnerável a reversões dos fluxos de capitais em algumas dimensões importantes. Assim, por exemplo, a redução da poupança doméstica, seja pelo avanço do consumo do governo, seja pelo estímulo contínuo ao consumo privado, tem como contrapartida a elevação do déficit externo, o que torna o país mais dependente do financiamento internacional.

Já a permissividade monetária do BC se traduziu numa taxa de inflação que já estava próxima ao limite superior da meta mesmo antes do enfraquecimento da moeda. Como o dólar mais alto encarece aqui dentro tanto os produtos importados como os exportados, seus impactos no sentido de acelerar a inflação são claros.

Grosso modo, estima-se que a desvalorização de 10% da moeda eleve a inflação em torno de meio ponto percentual em 12 meses, nada extraordinário, mas mais que suficiente para elevar a significativamente a probabilidade de ruptura do teto da meta.

Por outro lado, ao mesmo tempo em que o governo mais uma vez acena com o controle de gastos, toma medidas da direção oposta, não deixando dúvidas acerca de sua falta de compromisso nesta área. Sob estas circunstâncias, pois, o peso de qualquer ajuste recai sobre as taxas de juros, que, como notado acima, subiram vigorosamente nas últimas semanas.

Fica explicado, assim, o quase desespero do governo para conter a depreciação da moeda depois de anos reclamando do dólar barato. No entanto, dado que este processo reflete um fenômeno de alcance mundial, as chances das medidas conterem a taxa de câmbio são evidentemente reduzidas.


Descobrimos assim que, a despeito da choradeira persistente sobre o tsunami monetário, o governo jamais se preparou para sua reversão. E que o improviso continua sendo a marca registrada da nossa “política econômica”.

Quase lá...

sexta-feira, 14 de junho de 2013

E porque é sexta

é dia de clip. No caso "Lynyrd Skynyrd-Free Bird-BBC 1975". Para semana que vem o tema é jazz.
Abs



quarta-feira, 12 de junho de 2013

Será que ele é?

Não é sempre que acerto um resultado do Copom, quanto mais dois em seguida. Até agora, pelo menos, a trajetória da Selic segue o cenário que tracei em março, o qual parece se consolidar como o novo consenso de mercado, conforme divulgado na pesquisa Focus desta semana. Antes que a maré de boa sorte acabe (como, sem dúvida, ocorrerá), aproveito para fazer um pouco de autopropaganda.

Mais importante, porém, que a autopromoção descarada é saber se o aumento de juros mais forte na última reunião do Copom é sinal de uma postura mais aguerrida do BC no que se refere ao controle da inflação, com vistas a trazê-la de volta à meta no próximo ano. Dobrando a aposta, não creio nesta história, nem em outras versões sobre a reconstrução do tripé de política econômica das ruínas do arranjo anterior.

A razão final é simples: o governo perdeu a janela de oportunidade que tinha para colocar a casa em ordem, principalmente (mas não só) no que diz respeito à inflação. As medidas necessárias para moderar as pressões inflacionárias e atenuar o crescente déficit externo implicariam custos do ponto de vista de atividade econômica, em particular no campo do emprego, que poriam em risco o projeto de manutenção do poder da atual administração.

No caso da política monetária o problema é claro. Há uma cadeia de efeitos entre as alterações da taxa de juros e a resposta da inflação, na qual o comportamento do mercado de trabalho é um dos elos centrais. Especificamente, parcela considerável da aceleração inflacionária recente resulta de salários crescendo a um ritmo superior à expansão do produto por trabalhador, traduzindo-se em elevação dos custos que, em particular no caso dos produtos não sujeitos à concorrência externa, são repassados aos preços finais.

Neste contexto, trazer a inflação de volta à meta requer moderação salarial, que, por sua vez, necessita de um mercado de trabalho mais frouxo. Em bom português, a elevação dos juros requerida para reduzir a inflação deve ser forte o bastante para fazer a taxa de desemprego subir de modo a aliviar o aumento dos salários.

Considerando ainda que os efeitos das taxas de juros se manifestam primeiro na elevação do desemprego, para apenas depois se materializarem em queda da inflação, é óbvio que o governo não tem quaisquer incentivos para permitir que o BC leve às últimas consequências as promessas (ou ameaças) de um retorno “tempestivo” da inflação à meta.

Pelo contrário, as altas recentes da Selic parecem consistentes com um quadro de elevação modesta, em que, ao final do processo, a taxa de juros não ultrapassaria 8,75% ao ano, ou seja, um aumento total de 1,5 ponto percentual.

Da mesma forma, muito embora o ministro da Fazenda prometa uma flutuação mais livre da moeda (supostamente por conta da normalização incipiente da política monetária nos EUA), o que se observa é distinto, a saber, o BC interferindo no mercado de câmbio para conter o encarecimento do dólar, receoso de seus efeitos sobre a inflação, ainda mais porque sabe das limitações a que está sujeito.

A atuação do BC no mercado de câmbio é, portanto, mais um sintoma de sua falta de autonomia na condução da política monetária.

Não é possível, pois, tomar a decisão do Copom como indicação de uma mudança de sua postura face à inflação. O BC tem que se equilibrar entre as pressões inflacionárias que permeiam a economia e o projeto de poder da administração, e o faz, em parte, tentando dar um ar mais duro à sua comunicação, o que explica a ata mais recente ter vindo um tom acima das edições anteriores.


O teste da disposição do BC, porém, virá somente no fim do ano, quando as limitações políticas às elevações de taxas de juros se tornarem mais agudas. Aí veremos quanto da conversa atual é verdade e quanto apenas retórica. Até prova em contrário, minhas fichas seguem na segunda alternativa.

Central bankers don't dance!


(Publicado 12/jun/2013)

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Clip de sexta (001)

Imitando descaradamente outros blogs, começo a publicar vídeos de músicas às sextas. A novidade é que, embora eu dê a partida, as próximas postagens (sempre às sextas) serão de vídeos sugeridos pelos 18 (milhões de) leitores.

Quem quiser indicar alguma coisa, pode usar a caixa de comentários do último vídeo postado. Nesta caixa só serão aceitas sugestões de vídeos e comentários sobre vídeos anteriores. Economia, política, insultos aos blogueiros e comentaristas, etc, estão permitidas nas demais caixas de comentários; nesta não.

The Rolling Stones - Dead Flowers (Live) - OFFICIAL

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Chiquitito, pero cumplidor?

Quando se fala da perda de competitividade da indústria nacional, a imagem que vem à mente é a de um setor industrial sitiado por concorrentes internacionais que ocupam espaços originalmente preenchidos pelo produtor local. Não se presta, no entanto, atenção a uma dimensão relacionada – e provavelmente mais importante – da perda de competitividade do setor manufatureiro: aquela que se dá relativamente ao setor de serviços, levando a uma expansão mais vigorosa deste último.

Há evidências que os salários na indústria de transformação (ao menos os salários de admissão divulgados pelo CAGED) têm crescido sistematicamente mais que os salários no setor de serviços. Ao longo de nove anos, o salário industrial real cresceu cerca de 6% a mais que o observado nos serviços, registrando R$ 1.092,75 no primeiro trimestre deste ano contra cerca de R$ 1.129,70 no setor de serviços (no primeiro trimestre de 2004 os valores, a preços de hoje, eram respectivamente R$ 820,55 e R$ 899,69).

Por outro lado, o produto por trabalhador parece ter se elevado mais rapidamente no setor de serviços. A evidência, no caso, vem de dados do PIB e da Pesquisa Mensal do Emprego (PME), ambos divulgados pelo IBGE, que nos permitem estimar, ainda que de forma aproximada, a evolução da produtividade em cada setor.

Enfatizo aqui que o uso da PME é uma aproximação por falta de números nacionais mais atualizados relativos ao emprego em cada setor. A amostra da PME cobre apenas seis regiões metropolitanas que representavam 22% do emprego total do país em 2009, último ano em que há dados disponíveis em escala nacional.

Ainda assim, como tentamos estimar a evolução do produto por trabalhador, e não o seu nível absoluto, eventuais desvios com relação ao verdadeiro crescimento desta variável só ocorrerão caso o emprego nas regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE tenha se comportado de maneira muita diversa do emprego nacional.

Note-se, por fim, que, embora acima tenhamos usado os salários na indústria de transformação, a disponibilidade de dados da PME só permite a estimativa do produto por trabalhador no setor industrial como um todo, compreendendo, além da indústria de transformação, também a extrativa mineral, assim como os serviços industriais de utilidade pública (energia e saneamento).

Feitas as (nada modestas) ressalvas acima, estimamos que a tendência de crescimento da produtividade no setor industrial tem sido algo da ordem de 1% ao ano entre o primeiro trimestre de 2004 e o mesmo período de 2013 contra 1,3% ao ano no setor de serviços.

Os dados indicam, portanto, que o custo unitário do trabalho (a razão entre o salário e o produto por trabalhador) tenha crescido significativamente mais na indústria do que em serviços, conforme resumido do gráfico (onde os valores dos custos unitários relativos estão registrados no eixo à direita). É bom que se diga que a evolução mais recente tem sido ligeiramente mais favorável ao setor industrial, sem, no entanto, reverter a considerável vantagem acumulada pelo setor de serviços nos anos anteriores.


Assim, ainda que o preço relativo de bens industriais e serviços tivesse permanecido inalterado no período, a evolução relativa dos custos unitários do trabalho em cada setor já teria feito pender a balança para o segundo. Considerando, adicionalmente, que o setor de serviços, isolado da concorrência internacional, é capaz de repassar aumentos de custos para preços finais, limitado apenas pelas condições de demanda, temos um quadro de forte perda de competividade da indústria relativamente aos serviços.

Fonte: Autor (a partir de dados do IBGE e CAGED)
Não é por acaso, portanto, que a evolução da produção deste último tem suplantado com folga a observada na indústria de transformação, mesmo se ignorarmos os efeitos da recessão de 2008-2009, bem mais intensa no setor industrial.

Estes números, ressalvando novamente suas limitações, sugerem que a reversão deste quadro passa pelo aumento da produtividade relativa do setor industrial, preferivelmente acompanhada de moderação salarial. No entanto, quando examinamos o conjunto de políticas adotado pelo governo para estimular o crescimento, em particular da indústria de transformação, percebe-se a ausência clamorosa de medidas nesta área, preteridas em nome da expansão fiscal, dos estímulos ao consumo e do crescimento do crédito subsidiado.

Assim, caso o país pretenda sair da armadilha de baixo crescimento (com inflação acima da meta) precisa mudar radicalmente seu conjunto de políticas, deixando de lado a ênfase atual na promoção da demanda, na prática embarcando num conjunto ambicioso de reformas pelo lado da oferta, liberalizando mercados e simplificando procedimentos (em especial do lado tributário). O apetite para isto, porém, tem sido mínimo, a despeito de uma coalizão de tamanho inédito. Não é difícil concluir que a aceleração decisiva do crescimento permanece uma possibilidade bastante remota.

A equipe econômica reunida
(Publicado 6/Jun/2013)

quarta-feira, 5 de junho de 2013

GOL contra

A escolha natural para esta coluna seria alguma análise acerca de mais um “pibinho”, mas vou tratar de um caso bastante específico hoje, muito por frustração pessoal, mas também porque acredito que o episódio em questão ajuda a ilustrar algumas das forças que contribuem para o baixo desempenho da economia brasileira.

Tendo passado o fim de semana em Londrina, me preparei para pegar o voo 1141 da GOL, cujo horário de saída estava marcado para 5:15 da manhã, chegando a São Paulo 6:20. As condições meteorológicas, porém, não permitiram o pouso do avião durante a madrugada, de modo que o voo para São Paulo foi cancelado.

Até aí, o caso ilustra apenas as conhecidas insuficiências de infraestrura que permitem que uma cidade do porte de Londrina (cerca de 500 mil habitantes) não tenha os instrumentos requeridos para pouso com visibilidade limitada. Lamentável, mas óbvio.

O revelador, no caso, foi a postura da empresa. Sabendo do cancelamento, não se preocupou em colocar mais funcionários para atender os passageiros, produzindo filas verdadeiramente épicas. Também em momento algum parece ter cogitado enviar outro aparelho (o aeroporto já estava aberto pela manhã), permitindo a seus clientes voar a São Paulo, mesmo com atraso.

Com os demais voos tomados, a “escolha” oferecida aos passageiros era simples: ficar na cidade mais um dia e perder todos seus compromissos, ou ser despachado de ônibus. Guardadas as devidas proporções, não é distinta, em natureza, da “escolha” que nos dá o salteador entre a bolsa e a vida.

Finalmente, muito embora o custo do transporte terrestre seja uma fração do aéreo, não apenas a empresa não ofereceu reembolso (nem total, nem parcial), como recusou pedido a respeito, na prática lucrando com a perda dos clientes que, sem alternativa, tiveram que aceitar as quase 7 horas de viagem a São Paulo.

Mesmo dormindo um pouco, sobrou assim tempo para refletir acerca do ocorrido, em particular como uma empresa pode abusar desta forma da clientela. Parece um comportamento míope: há um lucro instantâneo, mas, olhando mais à frente, o risco de perda dos clientes em face da completa falta de respeito poderia levar a prejuízos mais relevantes, já que alguns clientes (eu, por exemplo) simplemente abririam mão de voar pela GOL.

Foi aí me lembrei de uma lição básica: se o economista acredita ter achado uma irracionalidade no comportamento de uma empresa, muito provavelmente não entendeu a questão. E a triste verdade é que a empresa não precisa se preocupar com a perda de clientes.

Ao contrário de outras, que atuam em segmentos extremamente competitivos, a GOL opera num ambiente de competição mínima, em que os incentivos para o bom tratamento do cliente são quase inexistentes. Enquanto em setores competitivos as empresas são forçadas a inovar para lucrar, já que a concorrência força permanentemente as margens para baixo, nos demais observamos o oposto. Não por acaso, no segmento de transporte aéreo os abusos no atendimento são norma, não exceção.

Economias em que prevalecem setores pouco competitivos são caracterizadas pelo reduzido incentivo à inovação e aos ganhos de produtividade, resultando em baixo crescimento da capacidade de produção, ou seja, as tais limitações de oferta, visíveis nos números do PIBinho.

Com a desaceleração do crescimento da população em idade ativa e a redução drástica do desemprego resta apenas o aumento da produção por trabalhador para impulsionar o produto. O incentivo à competição deveria, pois, ser o elemento central de qualquer política que visasse acelerar o desenvolvimento.


Testemunhamos, ao invés disto, iniciativas no sentido de fomentar “campeões nacionais”, protegidos da concorrência. À luz disto, é ainda possível se surpreender com nosso desempenho medíocre, ou a verdadeira surpresa é termos chegado tão longe?

Vai comer ou quer que embrulhe?


(Publicado 5/Jun/2013)