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quarta-feira, 27 de março de 2013

A mediocridade satisfeita

O crescimento brasileiro se acelerou visivelmente entre 2003 e 2010, atingindo uma velocidade média de 4% ao ano contra 2,5% ao ano nos 8 anos anteriores. Voltamos, porém, a patinar em 2011 e 2012, crescendo a menos de 2% ao ano. Mesmo que observemos a aceleração esperada para este ano (3%) e para o próximo (3,5%), estaremos de volta ao patamar anterior. Trata-se de desaceleração cíclica, ou o reflexo de um problema mais profundo?

Não resta dúvida acerca do diagnóstico do governo. Na sua visão a piora do desempenho é tratada como uma questão cíclica, provavelmente causada pela crise internacional, assim como pela menor disponibilidade de crédito, um mini “replay” da crise de 2009, que mereceria, portanto, o mesmo tipo de resposta: juros mais baixos, aumento da disponibilidade de crédito por meio dos bancos públicos e, por fim, uma política fiscal mais frouxa, expressa na redução (“anticíclica”) do superávit primário.

Há apenas um problema com este diagnóstico: não encontra o menor amparo na realidade.

Para começar, é difícil justificar que a crise internacional teria causado uma redução no crescimento brasileiro ao mesmo tempo em que vários países da região, até mais dependentes de commodities do que o Brasil, tenham registrado aceleração no período.

Afora isto, em 2009 observamos piora no mercado de trabalho e redução expressiva da inflação. Agora, ao contrário, o desemprego continuou a cair e a inflação, após breve queda (em boa parte devido às mudanças metodológicas no IPCA), voltou a se acelerar, a ponto de forçar até o relutante BC a recuar de sua promessa de manter “a estabilidade das condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado”.

Tais observações são consistentes com uma economia que, ao invés de enfrentar uma desaceleração cíclica, parece operar próxima ao seu potencial, como expresso na menor taxa de desemprego observada desde o início da série do IBGE.

Da mesma forma, ao contrário do observado em 2009, quando a velocidade de crescimento dos salários nominais caiu de valores próximos a 11-12% ao ano para algo em torno de 4-5% ao ano, estes se expandem hoje a 9-10% ao ano, também um sintoma de aquecimento no mercado de trabalho.

Aliás, dado que o crescimento da produtividade teima em permanecer ao redor de 1-1,5% ao ano, bem inferior à expansão salarial, não é difícil concluir que o custo por unidade produzida venha aumentando e, portanto, pressionando a inflação, em particular nos segmentos em que a concorrência internacional é escassa (por exemplo, serviços).

O comportamento do mercado de trabalho, salários e preços aponta, portanto, para uma conclusão desanimadora.  A queda de desempenho não se deve principalmente questões cíclicas, mas sim, como finalmente o BC parece ter reconhecido, “a limitações no campo da oferta”, ou seja, gargalos no mercado de trabalho (e também infraestrutura) que impedem o crescimento mais vigoroso.

Não se trata, quero deixar claro, de afirmar que houve necessariamente redução do nosso ritmo de crescimento potencial nos últimos anos, mas de algo até mais sério. É bastante possível que sempre tenha sido baixo; tendo saído, porém, de uma situação de desemprego muito elevado no começo da década passada, pudemos crescer acima do potencial pela utilização da mão-de-obra então disponível, reduzindo o desemprego ao longo do processo.

Esta estratégia enfrenta suas óbvias limitações, no entanto, quando a disponibilidade de mão-de obra se esgota. Assim, como não preparamos a transição para um crescimento baseado na produtividade, na prática abandonando o processo de reforma que se estendeu de 1995 a 2006, estes limites se traduzem em crescimento baixo e inflação alta. Já a persistência da estratégia atual de política econômica sugere que o governo está mais do que satisfeito com esta mediocridade.

“A gente só pgeciza baixar o pgimário...”


(Publicado 27/Mar/2013)

Como eu nunca pensei nisto?


Estou boquiaberto depois de ler o artigo “Foundations of the economic and social history of the United States: Apologia”, de Scott Albers. É um momento de Revelação.

I argue that this ordering power of consciousness as displayed in macro-economics is operable also in the physical sciences as “the fifth dimension.” This as yet undiscovered “fifth dimension” was hypothesized to exist by Theodor Kaluza in 1919 in addition to the three wellknown dimensions of space and one dimension of time. This “fifth” dimension allowed him to unify Maxwell’s equations on electro-magnetism with Einstein’s General Theory of Relativity.

Consequently an understanding of the historic macro-economic and social development of the United States – its “consciousness” – may provide insight into the operation of the physical universe through the similar operation of consciousness throughout reality as its fifth dimension.

E assim o artigo conclui:

These essays are written in the hope that serious research may begin as to the relationship between the construction of the Great Pyramid of Giza and its apparently directly relationship with the macro-economic structure of the United States and the combination of electromagnetism and gravity as found in the thought of Theodore Kaluza.

Keywords:
Fifth dimension, Zeno’s Paradox, Russell’s Paradox, Parmenides, consciousness, unemployment, Okun’s Law, real GNP, crisis, prediction, mathematics, economic history, cycle, Kondratiev wave, long wave, Golden Mean, phi, pi, mathematic ratio, octave, music, political economy wave, Great Pyramid, Giza, Khufu, theory of everything, Kaluza, General Theory of Relativity, complexity, Parmenides

quarta-feira, 20 de março de 2013

O foie gras nosso de cada dia


Após o anúncio da eliminação dos impostos federais sobre os produtos que compõem a cesta básica (o foie gras inclusive, já que nossos pobres não têm culpa de seus gostos sofisticados), a presidente pediu aos empresários que tenham “consciência”, repassando integralmente a queda de tributos aos preços finais. É óbvio que, na condição de consumidor, em nada me oponho à desoneração e barateamento do foie gras nosso de cada dia, mas, como economista, sou praticamente obrigado a alguns comentários críticos.

A começar pela pobreza de tomar tal medida como parte de um programa antiinflacionário. Como já notado por mais de um analista, os efeitos da desoneração, ainda que apareçam nos índices de preços, não constituem uma política antiinflacionária por um motivo absolutamente simplório: porque representam redução pontual de um conjunto de preços, enquanto a inflação é, por definição, o aumento persistente do nível geral de preços.

Na prática, portanto, os efeitos da desoneração se manifestarão por um período muito curto, sem alterar os fundamentos do processo inflacionário. São medidas que atacam os sintomas (preços), sem dar atenção aos fatores que impulsionam os preços (políticas monetária e fiscal excessivamente frouxas), equivalentes a um banho frio, que diminui a febre, mas não ataca a infecção.

Aliás, como a desoneração implica afrouxamento adicional da política fiscal, pois a redução de impostos não será compensada por gastos mais baixos, o efeito sobre os fundamentos caminha no sentido de acelerar a inflação mais à frente.

A falta de entendimento do funcionamento da macroeconomia, porém, não é surpreendente. Se tal entendimento houvesse, provavelmente não estaríamos enfrentando os problemas que encaramos. O que me espanta é a incompreensão de como opera o sistema de preços, tema que qualquer bom aluno de graduação tem se mostrado mais capaz de descrever do que economistas do governo.

Para entender a questão, imagine que o preço de um produto qualquer seja R$ 10/kg, dos quais 10% de impostos. O produtor fica, portanto, com R$ 9/kg e a este preço está disposto a oferecer, digamos, 100 kg do produto por mês. Já o consumidor paga R$ 10/kg, e a este preço quer consumir todos os 100 kg/mês.

Suponha, porém, que o governo elimine o imposto e peça aos produtores que “tenham consciência”, mantendo o preço a R$ 9/kg e, portanto, a produção a 100 kg/mês.

Para o consumidor, porém, o preço se reduziu a R$ 9/kg, o que deve naturalmente fazê-lo consumir mais daquele produto, por exemplo, 110 kg/mês. Será necessário, pois, induzir o produtor a elevar a quantidade ofertada de 100 para 110 kg/mês, o que só é possível elevando o preço. Não de volta para R$ 10/kg, é claro, pois neste caso o consumidor voltaria a demandar apenas 100 kg/mês, mas para algo entre R$ 9/kg e R$ 10/kg.

O valor preciso depende da sensibilidade tanto do consumidor como do produtor ao preço. Quanto mais sensível for o consumidor ao preço (uma pequena queda de preço leva a um forte aumento do consumo), tanto mais perto de R$ 10/kg será o preço final, pois seria necessário induzir a um aumento expressivo da produção com preços mais altos. Já quanto mais sensível for o produtor ao preço (um pequeno aumento bastaria para induzi-lo a aumentar bastante a produção), mais perto de R$ 9/kg ficará o preço final.

O caso de “empresários com consciência”, ou repasse integral da desoneração ao preço final só ocorreria, portanto, em casos extremos e pouco prováveis (nenhuma sensibilidade do consumidor a preços, ou sensibilidade infinita do produtor a preços), de modo que o impacto total estimado pelo governo sobre os índices de preços não deve se materializar.

Não se trata, então, de um problema “ético”, mas do governo ter, ao menos, o conhecimento básico de como funciona uma economia de mercado. Pensando melhor, não sei por que me surpreendi.

Mudando de ganso para pato...

(Publicado 20/mar/2013)

quarta-feira, 13 de março de 2013

Crônica de um fracasso anunciado


Há pouco, em dezembro, o Banco Central publicou seu Relatório de Inflação prevendo que a inflação atingiria pouco menos de 5% este ano, dos quais 1,2% no primeiro trimestre. Passados dois meses, porém, esta já acumula quase 1,5%, ou 6,3% nos 12 meses terminados em fevereiro, pouco abaixo do limite de tolerância da meta (6,5%), nível, aliás, que pode ser ultrapassado em breve.

Tais números, ainda que muito ruins, não traduzem a real extensão do problema. Apenas em fevereiro houve forte redução da tarifa residencial de energia, que puxou temporariamente a inflação para baixo. É bem verdade que houve também o aumento da gasolina, mas, deixando estes preços de lado, estima-se que a inflação dos demais produtos tenha ficado em quase 1% em fevereiro. Por onde quer que se olhe, a inflação voltou a ser um problema.

Isto não ocorreu por choques externos, empresários gananciosos, ou pessimismo dos economistas, mas porque raras vezes tivemos oportunidade de testemunhar tamanha coleção de barbeiragens na condução da política monetária como a observada no Brasil nos últimos 18 meses.

A começar pelo cavalo-de-pau em agosto de 2011, justificado por uma expectativa de uma crise internacional que tivesse um impacto sobre a economia brasileira equivalente a um quarto do observado na crise de 2008/09, impacto que teve a desfaçatez de jamais aparecer.

Só no começo deste ano o BC conseguiu entender que o ritmo de recuperação da atividade econômica doméstica menos intenso do que se antecipava se deve essencialmente a limitações no campo da oferta que não podem ser endereçados por ações de política monetária. Ou, em português, que a desaceleração econômica não resultou da crise, mas de gargalos locais, como o baixo crescimento da produtividade, a infraestrutura paupérrima e o esgotamento da mão-de-obra, nenhum solucionável a golpes da Selic.

Não bastasse isso, a comunicação do BC variou do caótico ao cômico. Por exemplo, em março do ano passado anunciou que pararia o processo de corte de juros quando a Selic atingisse 9% aa; mesmo assim prosseguiu até que ela caísse a 7,25% aa.

Já em outubro de 2012 afirmou solenemente que a estabilidade das condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta, ainda que de forma não linear, expressão que foi varrida da comunicação do BC na reunião da semana passada depois de cinco prolongados meses (e meras três reuniões do Copom).

Trocando em miúdos, o BC começou a reduzir os juros de forma atabalhoada, com base num diagnóstico equivocado, e só foi perceber o buraco em que havia se metido no começo deste ano, mas com as mãos ainda atadas por sua promessa (a quem?) de manter as taxas de juros inalteradas por muito tempo. Só podia terminar onde terminou.

Mas este não é o fim da história. Está mais do que claro que o governo começou a sentir o incômodo; só não o suficiente para fazer a coisa certa.

O pânico é aparente na decisão de desonerar a cesta básica. Não que eu tenha qualquer coisa contra impostos mais baixos, mas, se há quem acredite que isso se trata de política antiinflacionária, é melhor rever seus conceitos. É uma medida pontual, que pode ter algum efeito no sentido de reduzir temporariamente os índices de preços (e tentar evitar a ultrapassagem do teto já em março), mas não toca, nem de longe, nas raízes do problema.

A História registra inúmeras tentativas de conter processos inflacionários atacando diretamente os preços, nenhuma com sucesso. Não é difícil concluir que mais um fiasco se avizinha.

A inflação só voltará a ser controlada quando (e se) o BC finalmente assumir a responsabilidade pela estabilidade de preços, a ele conferida pelo Decreto 3.088/99. Tê-la abandonado é a verdadeira razão deste fracasso anunciado.

- Pode confiar, eu sei até a taxa neutra de juro

(Publicado 13/Mar/2013)

segunda-feira, 11 de março de 2013

Guido Mantega prevê melhora da saúde de Hugo Chávez no segundo trimestre de 2013

Eu bem que queria ter escrito isto. Como não tive a capacidade, vou plagiar.


Guido Mantega prevê melhora da saúde de Hugo Chávez no segundo trimestre de 2013

Categorias: EconomiaPolítica

Mantega também garante que o Palmeiras vence a Libertadores
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, conversou com
 jornalistas no café da manhã desta quarta-feira. Entre
previsões de recuperação da economia brasileira e crescimento
do PIB de 7,5% em 2013, Mantega comentou que acredita na
melhora do estado de saúde do presidente venezuelano Hugo
Chávez.
“Acredito que no segundo trimestre ele vai estar forte
novamente, comandando a continuidade da revolução bolivariana”,
disse.
Avisado pelo repórter da Carta Capital de que Chávez havia
morrido na noite de ontem – e pelo da Veja de que a morte ocorreu
há pelo menos duas semanas – o ministro se manteve otimista.
“Nem sempre as previsões estão certas e a única coisa que não tem jeito de resolver é a minha careca”,
comentou, bem humorado. Foi a senha para que os jornalistas da Carta e da Veja começassem a brigar,
mas ninguém se importou, assim como no mundo real.
Mantega apresentou um relatório da equipe econômica do governo que trabalha com um crescimento de
23% na saúde de Chávez para o segundo semestre. “Os indicadores são muito bons, veja você que ele
aparece sorrindo naquela foto com as filhas, e estamos confiantes”, explicou o ministro. Ele citou como
exemplo a Petrobras, que fechará mais parcerias com o PDVSA. “E não tem nada de parceria Caracu, seus golpistinhas!”, completou, aos risos.
Apesar da insistência dos jornalistas, Mantega encerrou o encontro reafirmando a confiança na recuperação
do Comandante. Quando se retirava da sala, a presidente Dilma Rousseff gritou do fundo do corredor:
“Guido! Arruma as malas que tamo indo pra Caracas!” O ministro voltou-se para os jornalistas e deu uma piscadinha. “Viram? Investimentos!” Foi o bastante para os repórteres da Veja e da Carta Capital voltarem
a trocar tapas. Mais uma vez, ninguém deu bola.

sexta-feira, 8 de março de 2013

0.60%!

0.60%

quinta-feira, 7 de março de 2013

Vereditos


Desconfio que meus leitores já tenham percebido que não sou exatamente um fã incondicional da política econômica adotada nos últimos anos. Os resultados ruins, seja crescimento baixo, seja inflação alta, certamente pesam, mas o que realmente me dá nos nervos é o grau de mistificação, que tem atingido níveis intoleráveis.

Não me refiro apenas, por exemplo, às tentativas toscas de maquiar os resultados fiscais. Por mais grave que isto seja, há economistas independentes que se esmeraram em mostrar os diversos artifícios utilizados pelo governo para inflar o superávit primário, limitando o dano que estas brincadeiras possam ter sobre nossa percepção do problema.

Fico na verdade mais incomodado com as justificativas apresentadas para ações de política econômicas, em tamanho desacordo com a realidade que não consigo deixar de imaginar se os inventores de desculpas não sabem o que se passa, ou sabem e não se importam, ou, pior, não sabem e também não se importam.

Um destes pretextos, invocado depois de analistas desmascararem os números fiscais oficiais, é a noção que o governo teria se engajado numa política fiscal anticíclica, isto é, elevando seus gastos quando a economia perde fôlego e, supostamente, os reduzindo nos momentos de maior aquecimento.

A divulgação dos dados de contas nacionais na semana passada pelo IBGE nos dá a oportunidade de verificar se esta afirmação passa pelo crivo implacável do Meritíssimo Juiz, o Dado.

Convido assim o escasso leitor a contemplar no gráfico a evolução de duas séries. Por um lado a demanda doméstica privada, isto é, a soma do consumo das famílias e da formação bruta de capital fixo (ambas medidas a preços constantes); por outro o consumo do governo, também medido a preços constantes. Ambas as séries estão expressas em termos de taxas de crescimento, comparando os últimos quatro trimestres com os quatro trimestres precedentes.

Fonte: Autor (com dados do IBGE)
Caso a política fiscal fosse verdadeiramente anticíclica deveríamos observar uma relação negativa entre as séries: o consumo do governo deveria aumentar nos períodos de fraqueza da demanda privada e moderar seu crescimento nos momentos de exuberância.

Por incrível que possa parecer, é precisamente o que acontece, apenas não no período citado. Como se pode ver, entre 1997 e 2002 a evolução do consumo do governo é quase uma versão espelhada do dispêndio doméstico privado, o que se expressa numa elevada correlação negativa entre as séries (-0,80). Já no período pós-2002 os dados revelam o fenômeno inverso: o consumo do governo passa a se mover em linha com a demanda privada e a correlação entre as séries passa a ser positiva (0,59).

O governo, porém, alega que esta mudança para um padrão anticíclico ocorreu após a crise internacional, de modo que repetimos as estimativas para o período 2009-2012, achando um valor ainda mais alto (0,77), indicação que, a despeito das declarações oficiais, o consumo do governo se tornou ainda mais pró-cíclico depois de 2009. O mesmo ocorre se limitarmos o período amostral a partir de 2010 (o coeficiente de correlação sobe para 0,79).

Note-se, é verdade, que a partir de meados de 2011 a correlação se torna novamente negativa, mas, com apenas seis observações, torna-se difícil tirar conclusões mais sólidas do ponto de vista estatístico.

De maneira, geral, portanto, os dados não corroboram a alegação de que o governo adotou uma política fiscal anticíclica. Ao contrário, ao menos do lado do gasto, observamos uma tendência de exacerbação do ciclo.

As implicações são diretas e nenhuma é positiva. No que se refere ao controle da inflação, esta característica da política fiscal exige mais da política monetária, em particular nos momentos em que se torna necessário reduzir a inflação. Concretamente, o BC se vê (ou se veria, caso seguisse um regime de metas para inflação) obrigado a aumentar ainda mais a taxa de juros para compensar o efeito do gasto sobre a demanda.

Já no que diz respeito ao crescimento não há como deixar de notar que o consumo do governo no Brasil ultrapassou 21% do PIB no ano passado, superando em mais de 3% do PIB o investimento total no país, um padrão que não se repete, por exemplo, nos demais países latino-americanos.

Dado que o PIB tem que somar 100%, não é necessário nenhum grande salto de imaginação para concluir que o elevado nível do consumo do governo pesa negativamente sobre o investimento e, portanto, crescimento. É certamente mais fácil culpar a crise externa, mas isto não altera o veredito inexorável dos números. 


Vai encarar os dados?


(Publicado 7/Mar/2013)



quarta-feira, 6 de março de 2013

Morre Chávez, descanse em paz

Hugo Chávez, o valentão participante de um golpe militar fracassado nos anos 1990, eleito presidente com uma bandeira de lei e ordem, para depois se transformar em um populista clássico da vertente ‘idiota latino-americano’, foi um dos políticos mais daninhos da história recente da América Latina. 

Sua estratégia para se manter no poder seguia algumas das principais lições castristas: um regime de exceção pode se perpetuar se conseguir exilar os intelectuais, os empreendedores, os inconformistas e os não-vagabundos do país. Quando entendeu que o principal obstáculo a seu projeto de governar por várias décadas era a classe média e os empreendedores, não economizou esforços para destruir a classe média de seu país. Para assustar os judeus, mandou tropas de choque invadirem com metralhadoras a creche judaica em Caracas. Para assustar os empreendedores, ameaçava expropriar e expropriava. Para assustar os servidores públicos, mandava publicar listas de eleitores opositores ao regime e cobrava juras de fidelidade à ‘revolução’. Para assustar a classe média em geral, dava de ombros com os altos níveis de violência e criminalidade em seu país. Para controlar os principais focos de poder, fez pouco caso da destruição da capacidade produtiva da petroleira estatal, PDVSA, aparelhada por batalhões de petralhas. Para deixar claro a todos que liberdades individuais e democracia eram valores repelentes para ele, Chávez nunca mediu esforços para ajudar a ditadura castrista usando o erário, e uma coleção de outros ditadores além-mar receberam ao menos apoio diplomático, de Assad a Mugabe. 

No âmbito da economia, também fracassou monumentalmente. Apesar de grande alta nos preços de petróleo (fora eleito em parte devido à crise que seu país passava com a baixa do petróleo em fins dos 1990s), não conseguiu expandir produção nem poupar parte significativa dos ganhos com a alta. A economia venezuelana durante todo seu governo não conseguiu escapar da inflação alta nem cresceu rapidamente. De 1998 até 2012, a economia venezuelana cresceu 3 por cento ao ano, enquanto Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e Peru cresceram entre 4.1 e 5.8 por cento ao ano (dados do IMF/WEO de outubro de 2012, variável PIB per capita PPP). 

 Por essa ficha corrida, descanse em paz.

A razão do “pibinho”


Não é a crise internacional. Se fosse, o “pibinho” não seria uma exclusividade nacional, mas compartilhado com vários outros países, em particular os mais parecidos conosco, seja geograficamente, seja pela composição das exportações (a predominância de commodities), ou ainda pela renda per capita. Sob qualquer perspectiva, porém, o Brasil se destacou negativamente em termos de crescimento no ano passado, indicando que, ao contrário da alegação do ministro da Fazenda, nosso desempenho ruim tem origens domésticas.

Na verdade, a crise externa, mais que uma desculpa, foi também diagnóstico. As medidas de política econômica adotadas desde meados de 2011 seguiram um desenho semelhante àquelas utilizadas no período que se seguiu à grande crise financeira de 2008-2009. Da mesma forma que se costuma dizer que os generais lutam sempre a última guerra, nossos gestores de política econômica parecem estar ainda enfrentando aquela crise.

Para quem não se lembra, o BC iniciou seu ciclo de afrouxamento monetário argumentando que a crise teria um impacto equivalente a um quarto do observado em 2009, o que faria a inflação convergir à meta no ano passado, um equívoco exposto por uma taxa inflacionária que teima em se desviar dela.

Da mesma forma, o ministério da Fazenda retomou as medidas de desoneração tributária e colocou os bancos públicos na linha de frente de financiamento ao consumo. Adicionalmente elevou o gasto público, apesar das juras que cumpriria fielmente a meta fiscal e, no final do ano, usou e abusou da contabilidade criativa para tentar esconder o que ficou à plena vista: que não chegou perto do que havia prometido.

Em outras palavras, seguiu um roteiro muito parecido ao adotado em 2009: juros em queda, bancos públicos expandindo o crédito, gasto governamental em alta. Esta combinação funcionou bem àquela época, mas, como se vê pelo “pibinho”, fracassou espetacularmente no ano passado.

O fiasco é resultado do diagnóstico equivocado. O governo viu a desaceleração da economia como um fenômeno cíclico, induzido pela crise externa, quando as raízes são, na verdade, mais profundas e locais.

Ao contrário de 2009, não se observa no país uma situação de folga do ponto de vista de recursos produtivos. Nem o desemprego é alto (muito pelo contrário), nem os níveis de ocupação de capacidade instalada na indústria são anormalmente baixos. Assim, enquanto uma política de incentivo ao consumo àquela época tinha grande chance de reativar (como reativou) a economia, a mesma política, sob condições distintas, falhou visivelmente.

Crescemos nos últimos anos com base na expansão do consumo e na ocupação da mão-de-obra desempregada, com pouca ênfase no investimento e na expansão da produtividade. Funcionou a contento enquanto havia mão-de-obra disponível, mas isto acabou à medida que a economia se aproximou do pleno-emprego.

A desaceleração do crescimento não é, portanto, um fenômeno cíclico, mas o sintoma de esgotamento de um modelo que, a bem da verdade, não poderia ser sustentado indefinidamente, mas foi tratado como se pudesse. Baseado nesta crença o país não se preparou para o que viria depois do binômio “consumo e emprego”.

Em particular, o abandono das reformas, assim como a relutância em transferir ao setor privado responsabilidades pela infraestrutura, estão por trás tanto do fraco investimento quanto do crescimento medíocre da produtividade.

Assim, para o crescimento continuar ao ritmo observado entre 2004 e 2010 será necessário mudar os incentivos do consumo para o investimento. Isto, porém, fere interesses já enraizados no país, assim como o padrão de política econômica que se cristalizou no período, sublinhado as dificuldades para operar a mudança. Cresceremos em 2013 mais do que no ano passado, mas nem perto daquilo que foi um dia o objetivo do governo.

“Foi a crise externa, querida...”

(Publicado 6/Mar/2013)

segunda-feira, 4 de março de 2013

Em busca da retomada perdida

Folha de S. Paulo (03/mar/2013)

sábado, 2 de março de 2013

London calling


‘London Calling’ do Clash é um dos dez discos indispensáveis para mim. São poucas músicas que não se tornaram hinos clássicos do rock e a música do título é perfeita para mim.