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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Uma experiência inesquecível

Ontem participei da colação de grau das turmas de Ciências Econômicas e Relações Internacionais da FAAP, cerimônia para a qual fui honrado com o convite para ser o patrono das turmas. Mais uma vez, parabéns aos formandos.

Copio abaixo meu discurso:
Boa noite a todos.
Quero, em primeiro lugar, agradecer de coração o honroso convite que me foi feito para ser o patrono desta turma (isso apesar de haver séria controvérsia quanto à existência de economistas com coração). Tive, há muitos anos (mais do que gostaria de me lembrar), a honra de ser um dos professores homenageados em uma cerimônia como esta, mas é a primeira vez que me chamam para ser patrono e, portanto, também a primeira vez que sou chamado para fazer um discurso nesta capacidade. Não é fácil, acreditem, e espero sinceramente que me perdoem se não sair da forma como eu mais gostaria. Pelo menos (e se trata de promessa que não fiz apenas para o Luiz Alberto, mas para mim mesmo) pretendo ser breve: se for aborrecido, não o serei por muito tempo!
A bem da verdade, refleti muito sobre o que poderia falar aqui e acabei concluindo – espero que acertadamente – que o mais apropriado fosse contar para vocês (talvez “alertar” fosse o verbo mais adequado) o que se espera de quem sai da faculdade e vai enfrentar o mundo profissional. Na minha experiência, foi algo como o fim da infância (ou da adolescência); talvez por isso eu tenha prolongado tanto os meus estudos, voltando do doutorado já com mais de 30 anos (e dois filhos!).
Eu bem sei que a imensa maioria, se não todos aqui, já tem vivência no mercado de trabalho; consequentemente não estou falando para noviços, mas para jovens profissionais que irão enfrentar desafios consideráveis, se é que já não os enfrentaram. Neste último dia de vocês como alunos, pretendo ser um dos últimos a imaginar que sou capaz de ensinar-lhes algo de um púlpito.
Quando me formei, há pouco menos de 30 anos, tanto eu como meus colegas víamos o fim daquele período como a libertação definitiva. Um diploma era praticamente a garantia de uma vida segura, seja como profissional de uma empresa, seja como empresário, ou mesmo como professor (minha ambição durante um bom tempo). O exemplo dos nossos pais era claro e não acredito que esperávamos nada muito diferente daquilo que eles tinham enfrentado.
Foi minha primeira grande previsão errada, prenúncio dos muitos equívocos que cometi ao longo da carreira. O mundo havia mudado e continuou mudando. Poucos anos depois de me formar testemunhei, como seus pais, alterações radicais: o Muro de Berlim caiu, a União Soviética desapareceu, a China emergiu, assim como a Índia vem fazendo, e, mais recentemente, países desenvolvidos foram tomados por uma crise sem precedentes desde a II Guerra, eventos históricos em larga escala.
Neste contexto, o Brasil também mudou: no ano da minha formatura elegíamos o primeiro presidente civil depois de 21 anos de regime militar. Precisamos de mais alguns anos para a primeira eleição direta para presidente, que, felizmente, se tornou uma rotina no país. E precisamos também de um tempo extra para domar a inflação, flagelo de gerações no Brasil que, creio, vocês não tem sequer idade para recordar (ainda bem!).
Esta curta descrição não pretende ser exaustiva (afinal de contas, minha promessa de brevidade continua valendo), nem acredito ser este o melhor momento para reminiscências históricas. É apenas uma lembrança, ou um aviso, acerca do potencial de mudança, por mais que nossos hábitos tendam a sugerir que o futuro será apenas uma extrapolação do presente. Não é e, se há alguma lição a tirar disto, é precisamente que o inesperado tem o curioso hábito de se fazer presente quando, é claro, menos se espera...
Este é o alerta que queria oferecer para vocês.
Bem sei como deve ter sido difícil para todos enfrentarem os exames vestibulares e obterem uma vaga numa faculdade renomada. Imagino também que, ao longo dos anos que passaram aqui, não foram poucos os desafios, nem foi modesto o trabalho que tiveram que fazer para serem aprovados nos diversos cursos. Posso também simpatizar com os que tiveram que conciliar estudos e trabalho, abrindo mão de tempo com família e amigos. Tudo o que passaram é motivo justificável de orgulho relativo ao diploma simbolicamente entregue hoje, mas conquistado com sacrifício durante um período consideravelmente mais longo.
Assim sendo, comemorem hoje e comemorem muito, com amigos, com família, esposas, esposos, namoradas e namorados. Vocês merecem, não tenham dúvidas, pois se trata de uma conquista importante.
Entretanto, não pensem, nem por um segundo, que sua evolução, seu aprendizado, termina aqui. A forma particular de aprendizado, um professor à frente, vocês anotando, estudando, sendo testados, talvez acabe hoje, caso vocês não mais decidam por novas rodadas de instrução formal. Mas, num mundo em constante mudança, a evolução pessoal se torna obrigação, se não questão de sobrevivência profissional.
Não, não estou sugerindo que vocês saiam daqui hoje já em busca de uma pós-graduação, de um MBA, de um mestrado. Até espero que alguns de vocês o façam, mas não é disso que trato aqui. Minha mensagem é bem mais simples: não parem de aprender. Sejam humildes quanto a isso, mas não aceitem sabedoria de cima para baixo. Desafiem. Questionem. Ousem pensar diferente. Mesmo que o resultado final não seja o que esperam (e, creiam, raramente é) o caminho é quase sempre mais importante que o destino final.
Na história judaica conta-se que, no início da era cristã, havia dois rabinos, ambos eruditos e famosos: Shamai e Hillel. Certo dia um homem os desafiou a explicar toda lei judaica se apoiando num pé só. Shamai mandou o homem embora. Já Hillel teria dito: “Não fazei aos demais aquilo que não gostarias que fizessem contigo. Esta é toda a Lei; o resto é comentário”. Há muito mais que poderia dizer para vocês neste momento, mas creio ter dito o essencial. O resto é comentário.
Mais uma vez, obrigado pela honra que me toca e meus parabéns aos formandos, seus pais, seus familiares e seus amigos. Vamos comemorar.
Homenagem


sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Mais GloboNews

Sábado (28/jan) às 23:00 estarei no Painel da GloboNews. Se der, publico o vídeo.

P.S.

Primeira parte



Segunda parte

300!

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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Fed adota virtual regime de metas para a inflação

Release Date: January 25, 2012

For release at 2:00 p.m. EST


Following careful deliberations at its recent meetings, the Federal Open Market Committee (FOMC) has reached broad agreement on the following principles regarding its longer-run goals and monetary policy strategy. The Committee intends to reaffirm these principles and to make adjustments as appropriate at its annual organizational meeting each January.

The FOMC is firmly committed to fulfilling its statutory mandate from the Congress of promoting maximum employment, stable prices, and moderate long-term interest rates. The Committee seeks to explain its monetary policy decisions to the public as clearly as possible. Such clarity facilitates well-informed decisionmaking by households and businesses, reduces economic and financial uncertainty, increases the effectiveness of monetary policy, and enhances transparency and accountability, which are essential in a democratic society.

Inflation, employment, and long-term interest rates fluctuate over time in response to economic and financial disturbances. Moreover, monetary policy actions tend to influence economic activity and prices with a lag. Therefore, the Committee's policy decisions reflect its longer-run goals, its medium-term outlook, and its assessments of the balance of risks, including risks to the financial system that could impede the attainment of the Committee's goals.

The inflation rate over the longer run is primarily determined by monetary policy, and hence the Committee has the ability to specify a longer-run goal for inflation. The Committee judges that inflation at the rate of 2 percent, as measured by the annual change in the price index for personal consumption expenditures, is most consistent over the longer run with the Federal Reserve's statutory mandate. Communicating this inflation goal clearly to the public helps keep longer-term inflation expectations firmly anchored, thereby fostering price stability and moderate long-term interest rates and enhancing the Committee's ability to promote maximum employment in the face of significant economic disturbances.

The maximum level of employment is largely determined by nonmonetary factors that affect the structure and dynamics of the labor market. These factors may change over time and may not be directly measurable. Consequently, it would not be appropriate to specify a fixed goal for employment; rather, the Committee's policy decisions must be informed by assessments of the maximum level of employment, recognizing that such assessments are necessarily uncertain and subject to revision. The Committee considers a wide range of indicators in making these assessments. Information about Committee participants' estimates of the longer-run normal rates of output growth and unemployment is published four times per year in the FOMC's Summary of Economic Projections. For example, in the most recent projections, FOMC participants' estimates of the longer-run normal rate of unemployment had a central tendency of 5.2 percent to 6.0 percent, roughly unchanged from last January but substantially higher than the corresponding interval several years earlier.

In setting monetary policy, the Committee seeks to mitigate deviations of inflation from its longer-run goal and deviations of employment from the Committee's assessments of its maximum level. These objectives are generally complementary.  However, under circumstances in which the Committee judges that the objectives are not complementary, it follows a balanced approach in promoting them, taking into account the magnitude of the deviations and the potentially different time horizons over which employment and inflation are projected to return to levels judged consistent with its mandate.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Festa imodesta

A inflação dos últimos dois anos superou consideravelmente a meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional e, a despeito das promessas do Banco Central, a história deverá se repetir em 2012. Isto, contudo, não parece ser motivo de grande preocupação por parte dos gestores de política econômica, para quem qualquer número abaixo do limite superior de tolerância vale até comemoração. Posto de outra forma, não creem haver problema com a inflação acima da meta, já que isto permitiria trabalhar com uma taxa de juros mais baixa e crescimento mais elevado.


À primeira vista, tal escolha parece fazer todo sentido: por que o preciosismo de atingir a meta à custa de uma expansão menor se podemos crescer mais, mantendo a inflação inferior a 6,51%? Entretanto, explorando esta questão mais a fundo, não é difícil concluir que se trata, novamente, da falsa escolha entre inflação e crescimento.

Com efeito, porque parece haver intolerância à expansão do PIB abaixo de determinado patamar, o BC não está disposto a pagar o preço em termos da redução temporária do crescimento requerida para trazer a inflação de volta à meta depois dos exageros cometidos em 2009 e 2010. Assim, não apenas interrompeu o processo de aperto monetário, mas reverteu seu curso apesar dos sinais claros que a inflação não convergiria para a meta mesmo em 2012. 

O impulso monetário decorrente desta política deve se fazer sentir com toda intensidade a partir do segundo trimestre deste ano, levando à aceleração da demanda doméstica, principalmente o consumo, com o auxílio luxuoso do gasto público, anabolizado pelo aumento do salário mínimo.

Todavia, estas ações não ocorrem sem reação por parte de público. Não por acaso, as expectativas de inflação, que – antes do corte da Selic – sugeriam convergência para a trajetória de metas, passaram a sinalizar um desvio significativo para cima tanto em 2012 quanto em 2013.

As expectativas inflacionárias têm, contudo, impacto sobre a inflação corrente. Qualquer empresa (ou trabalhador) minimamente previdente que esteja no processo de definição de seus preços (ou salários) incorpora a estes um valor relativo à proteção contra sua erosão ao longo do período em que se mantêm fixos. Assim, tipicamente a deterioração das expectativas, resultado da percepção da falta de compromisso com a meta, acaba se traduzindo em aceleração da inflação corrente, independente da taxa de crescimento.

Em outras palavras, a troca de crescimento por inflação não é estável: é possível algum ganho temporário, mas, à medida que as expectativas inflacionárias mais elevadas se incorporam à formação de preços, o resultado passa a ser apenas inflação mais alta. Já o crescimento de médio e longo prazo não é acelerado pela inflação, pois resulta essencialmente da capacidade de expansão da oferta, ou seja, do nível de investimento em períodos mais curtos, e da demografia, educação e expansão da produtividade ao longo de um horizonte mais extenso.

Por outro lado, dada a provável aceleração da economia em 2012, a se traduzir em queda adicional do desemprego e da capacidade ociosa, aumentam as chances de um novo repique inflacionário em 2013, como, aliás, sugerido pelas próprias projeções do BC em seu último Relatório de Inflação.

Partindo da inflação já acima da meta, isto acabará forçando o BC a elevar novamente a Selic, mas já num contexto de expectativas bastante deterioradas. Sob tais circunstâncias, a convergência à meta será bem mais custosa em termos de perda de produto do que seria caso o problema tivesse sido tratado a tempo. O custo de se recusar a enfrentá-lo a tempo será o aumento da volatilidade do produto, supostamente o que se quis reduzir no ano passado.

Pensando bem, talvez seja mesmo o caso de comemorar a inflação no topo da banda, porque as coisas podem piorar bastante daqui para frente.

6,5%!
(Publicado 18/Jan/2012)

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Distância entre intenção e gesto

Parece ter se tornado comum, quase consensual, a noção que o BC teria “acertado o cenário” ao iniciar o processo de redução da taxa Selic em sua reunião de agosto. O crescimento nulo do PIB no terceiro trimestre de 2011, assim como a perspectiva de um desempenho semelhante no final do ano passado seriam provas que, desta vez, o BC teria se posicionado “à frente da curva”, o que motivou até elogios em quartéis mais associados à crítica a priori das ações da autoridade monetária.

No entanto, quando olhamos mais de perto os números, a avaliação mais favorável que se pode fazer é que o júri ainda não decidiu se BC está correto; a rigor, pelo menos até agora, a única conclusão possível é que o cenário não se desenrolou como o previsto.

De fato, como expresso na ata daquela reunião, a decisão pelo corte da Selic resultou de “um cenário alternativo, (...) [que] admite que a atual deterioração do cenário internacional cause um impacto sobre a economia brasileira equivalente a um quarto do impacto observado durante a crise internacional de 2008/2009. Além disso, supõe que a atual deterioração do cenário internacional seja mais persistente do que a verificada em 2008/2009”. A verdade, todavia, é que não há ainda nenhum sinal de que a economia brasileira tenha sofrido um impacto equivalente a um quarto do verificado naquele momento.

Para tanto convido o leitor à inspeção dos números na tabela abaixo, que comparam o desempenho econômico desde a decisão pelo corte da Selic com o observado durante a crise de 2008/09. Verificamos, por exemplo, que a produção industrial caiu 18% entre setembro de 2008 (o pico antes da crise) e fevereiro de 2009 (o pior momento capturado pela média móvel trimestral), enquanto as vendas varejistas caíram cerca de 5% no mesmo tipo de consideração.

Em resposta à queda da demanda e da produção verificou-se uma expansão considerável da ociosidade dos recursos: o desemprego (já ajustado à saída de parcela da população do mercado de trabalho no período imediatamente posterior à crise) aumentou 1,7 pontos percentuais ponto percentual, enquanto a capacidade ocupada caiu quase 4,5 pontos. Assim, a variação das medidas do hiato de produto mostra um aumento expressivo de recursos ociosos, que, por sua vez, se materializou em queda apreciável da inflação, seja a inflação “cheia”, seja seu núcleo, levando a inflação a terminar 2009 praticamente na meta.


Já no período mais recente, muito embora o desempenho do ponto de vista de atividade tenha sido medíocre, marcado por queda da produção industrial e estagnação do PIB, em nada se assemelha a um impacto equivalente a um quarto do observado em 2008/09. Se é verdade que o varejo ampliado (que inclui veículos) sofreu uma queda pouco inferior a 1,5% de julho a outubro, o varejo restrito se expandiu, mostrando uma demanda interna bem mais resistente do que há três anos.

O contraste é ainda maior quando inspecionamos as medidas de ociosidade: o mercado de trabalho, na verdade, se tornou mais apertado, compensando a queda (moderada) da utilização de capacidade na indústria. Assim, a variação do hiato de produto é uma fração modesta da verificada durante a crise, certamente inferior aos 25% postulados no cenário alternativo do BC.

Estes dados nos trazem para o que, afinal de contas, é (ou deveria ser) o objetivo do BC: a inflação. Muito embora os cenários apresentados recentemente no Relatório de Inflação apontem (com ajuda da correta atualização da ponderação do IPCA) para uma taxa de inflação pouco acima de 4,5% este ano, a verdade é que, com menor contribuição do hiato e expectativas de inflação persistentemente descoladas da meta, a experiência de 2008/09 sugere, pelo contrário, que deve ser bastante difícil tirar dois pontos percentuais da inflação nos próximos 12 meses. Isto sem mencionar (ops!) que os cenários do BC que incorporam a Selic caindo até 9,5% a.a. já mostram a inflação voltando a se acelerar no final de 2012 e atingindo bem mais do que a meta em 2013.

É bom que se diga que, ao menos em tese, ainda há a possibilidade de deterioração adicional da situação internacional que leve o cenário corrente mais próximo daquele imaginado pelo BC há poucos meses, mas permanece sendo verdade que a convergência da inflação à meta segue dependente de uma contração de atividade que não ocorreu e que não parece ser palatável para os atuais condutores da política econômica. Assim, a única forma de concluir que o BC “acertou o cenário” é supor que ele sempre mirou acima da meta. Já isto o mercado parece ter compreendido há tempos.
Ooopps...
(Publicado 5/Jan/2012)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A tesoura de Marshall


Parece haver um paradoxo no mercado de trabalho: a geração líquida de empregos formais (já ajustada pelo padrão sazonal) nitidamente desacelerou no segundo semestre de 2011, vindo de 160-170 mil postos de trabalho por mês para 100-110 mil postos mensais; por outro lado, a taxa de desemprego, também sazonalmente ajustada, caiu no período, atingindo em novembro o nível mais baixo desde 2002.

Este padrão poderia ser reconciliado caso um número expressivo de pessoas desempregadas tivesse abandonado a busca por trabalho. Sob tais circunstâncias seria concebível que a taxa de desemprego se mantivesse reduzida a despeito da baixa geração de emprego.

Entretanto, um exame mais atento dos dados de mercado de trabalho sugere não ser este o caso. Nos últimos meses, a proporção das pessoas em idade ativa trabalhando ou buscando trabalho (taxa de participação) tem se mantido razoavelmente estável e próxima à sua média. É verdade que na primeira metade do ano a taxa de participação se achava algo acima da média; todavia a redução no segundo semestre é insuficiente para explicar o comportamento discrepante da geração de empregos vis-à-vis a taxa de desemprego.

O paradoxo aparente, porém, pode decorrer de uma suposição implícita na análise acima, qual seja, que a desaceleração do ritmo de criação líquida de postos de trabalho refletiria apenas da moderação da demanda por trabalho,  fruto da expansão mais lenta do produto. Há, contudo, ao menos em tese, a possibilidade que isso decorra também de limitações pelo lado da oferta.

Quando há um elevado contingente de desempregados e a demanda por trabalho se expande rapidamente é razoável esperar que a geração líquida de empregos se traduza em redução da taxa de desemprego. Todavia, à medida que nos aproximamos de uma situação em que parcela crescente da mão-de-obra capacitada se encontra empregada, a geração líquida deve desacelerar, pois agora um novo posto de trabalho não é obrigatoriamente ocupado por alguém previamente desempregado; passa a haver chance cada vez maior de tal posto ser tomado por alguém que já estava empregado.

Num caso extremo, irreal, mas que ajuda a ilustrar o problema, se todo novo emprego fosse tomado por um trabalhador previamente ocupado, a geração líquida de empregos seria zero, mas a taxa de desemprego permaneceria inalterada e baixa, como verificado no Brasil.

Isto dito, se o problema resultar da oferta de trabalho, deve haver reflexo nos salários. Caso só seja possível preencher uma nova vaga com um trabalhador já empregado, o salário oferecido ao novo candidato deverá ser superior ao que recebia anteriormente, isto é, o salário de admissão deve não apenas subir, mas também crescer mais do que o salário de demissão.

Segundo os dados do Ministério do Trabalho, é precisamente isto que temos observado. O ritmo de crescimento do salário médio de admissão se acelerou na segunda metade do ano, de 9% para 11% na comparação com o mesmo mês do ano anterior; além disto tem também superado a velocidade de crescimento do salário de demissão nesta mesma base de comparação. Esta evidência é consistente com a hipótese de limitações de oferta de trabalho terem desempenhado um papel mais relevante na moderação do ritmo de criação de empregos formais do que o observado até recentemente. Como a tesoura, a análise do mercado precisa de duas lâminas.

Embora esta não seja necessariamente a única razão por trás da desaceleração verificada na segunda metade de 2011, chega a ser surpreendente que esta hipótese tenha sido até agora ignorada. A identificação da natureza dos movimentos em qualquer mercado não pode deixar de lado a evidência pertinente aos preços, muito menos no caso do mercado de trabalho. Isto só reforça minha impressão que, quando a análise já parte da conclusão, a lógica do argumento fica irremediavelmente prejudicada.

A oferta também pode conduzir

(Publicado 4/Jan/2012)

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Melô do Ted Kennedy

A primeira música do Sabbath com Ian Gillan (“I am a highway star”) no vocal não poderia deixar de ter uma referência a automóveis em alta velocidade. O vídeo é típico do começo dos anos 80, ruim de dar dó, mas não deixa de ser divertido em sua ‘ruindeza’.

Mão Visível pega pesado em 2012

Multidimensionalmente bizarro.
Para começar 2012 sintonizado: It is oblivion!